quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O FUTEBOL NÃO FOI DEVIDAMENTE PREPARADO PARA A NOVA TECNOLOGIA. E DEU NO QUE DEU...

Cercado de grande publicidade estreou, no Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, o chamado “árbitro de vídeo”, já utilizado normalmente em diversos esportes.
Depois de passar em branco nas primeiras partidas, hoje o tal árbitro de vídeo tomou sua primeira decisão. E com um equívoco catastrófico; chamou a atenção do juiz para um suposto pênalti (que não havia sido reclamado por ninguém) que, confirmado, acabou resultando no primeiro gol dos japoneses do Kashima, um lance que os ajudou muito a construir a sua vitória.
Uma análise mais precisa mostrou que o jogador que sofreu o pênalti estava em condição ilegal (impedimento) o que, na opinião da maioria dos comentaristas, invalidaria a jogada antes da falta ser cometida. Resumindo; o tal de árbitro de vídeo, idealizado como solução para todos os problemas, acabou virando fonte de discórdia, ao transformar uma jogada que passou despercebida em um lance capital para o resultado do jogo.
Mais do que a choradeira pela derrota do Atlético Nacional de Medellin que, em função dos acontecimentos recentes, tornou-se o terceiro time do coração de todos os brasileiros (o segundo, claro, é a Chapecoense), o fato é que a lambança acabou dando fortes argumentos para os inimigos da tecnologia, aqueles que querem que o futebol continue com suas regras antediluvianas para todo o sempre.
Nestas horas um pouco de embasamento teórico é bom. Lá pelos anos 1990, uma palavra se tornou obrigatória no jargão empresarial; reengenharia. O conceito, criado por Michael Hammer, indicava mais ou menos o seguinte; em função dos avanços tecnológicos, era preciso pensar não apenas em colocar computadores substituindo ou auxiliando seres humanos, mas sim em mudar o processo como um todo. Uma de suas melhores frases era; “Não automatize, destrua!”. Dando um exemplo prático; até os anos 1970, o ato de sacar dinheiro em um banco envolvia uma agência bancária (física) e funcionários para receber o cheque, conferir o saldo e entregar o dinheiro para o cliente, numa operação demorada que só podia ser feita durante o expediente bancário. A tecnologia “reengenheirou” este processo; hoje, basta uma máquina, uma conexão de internet e um cartão para que o cliente possa sacar dinheiro a qualquer hora e em qualquer lugar, sem a menor dificuldade.
Hammer foi criticado por muita coisa que não disse e nem fez (afinal todo o revolucionário sofre este tipo de ataque), mas nada disto invalida a sua teoria. Levando esta situação para o futebol, entendo que a tecnologia tem que ser introduzida, mas junto com mudanças no processo, e isto, aparentemente, não foi feito.
Deixo aqui duas sugestões simples para implementar a mudança;
1) Assim como ocorre no vôlei e no tênis, entendo que o árbitro de vídeo só deve ser consultado quando houver um “desafio”. Ou seja; no caso do pênalti de hoje, seria necessário que, imediatamente após a falta, os japoneses solicitassem a interrupção do jogo, para análise de vídeo. Para evitar que isto se transforme numa estratégia para segurar o jogo, deve-se seguir a mesma regra do vôlei e do tênis; o time só poderá perder três desafios ao longo da partida (ou seja, só pede o desafio quando tiver certeza que foi prejudicado);
2) Detalhe importante; como este tipo de coisa vai gerar interrupções, acho que seria a hora de introduzir uma “reengenharia” que o futebol está pedindo há muito tempo; a cronometragem fora de campo. Chega a ser ridículo que o juiz, com seu cronômetro de pulso, controle o tempo de partida e acrescente o que quiser. Isto valia no tempo em que um cronômetro era artigo raro, e nem se sonhava com placares eletrônicos. Hoje, qualquer um pode ser o “operador do cronômetro”, paralisando-o nos desafios, assim como nas substituições, atendimentos médicos, comemorações de gols, etc... Isto acabaria com boa parte dos problemas que temos hoje (cera, simulação de contusões, atrasos na reposição da bola, etc...). O tempo de jogo poderia ser reduzido para dois tempos de 35 minutos, por exemplo. Tenho certeza que o espetáculo melhoraria muito, e os problemas disciplinares diminuíram bastante.
Enfim, são propostas de um engenheiro absolutamente fanático por futebol e que convive com mudanças tecnológicas todos os dias. E que entende que, assim como nas empresas, a tecnologia no futebol deve ser implantada (é inevitável), mas tomando todos os cuidados necessários para que a mudança seja sempre positiva.
Até a próxima.