sábado, 26 de novembro de 2016

No meu tempo, isto se chamava "dois pesos e duas medidas"

Da série “coerência é bom e eu gosto”;
Dois “causos” que me mostram que está cada vez mais difícil entender algumas coisas neste estranho mundo de hoje.
Causo 1;
A torcida brasileira resolveu imitar outras e gritar em coro “bicha!” para o goleiro adversário na hora do tiro de meta. Brincadeira de mau gosto, certo, mas duvido que algum goleiro do mundo se ofenda mortalmente com isto. A FIFA considera este ato “intolerável”, aplica uma multa de milhares de dólares e ainda ameaça com outras punições em caso de reincidência.
Por outro lado, a torcida do Corinthians, no jogo contra o Internacional, cantou uma música estúpida, que comemora a morte do jogador Fernandão, ídolo do Colorado (aliás, a do Grêmio já tinha feito isto, num grenal). Nenhuma punição foi cogitada – afinal, é coisa de “torcedor”. Prá mim, na escala de boçalidade, seria dez vezes pior, no mínimo.
Causo 2;
A filhinha sem noção do treinador do Grêmio entra no campo da Arena, a convite do papai, depois do encerramento de um jogo, e tira um monte de “selfies”, deslumbrada. O Grêmio é punido com a perda de um mando de campo, multa e mais não sei o que.
Por outro lado, hoje, torcedores do Náutico, irritados com a derrota do time para o Oeste, invadiram o campo com o jogo em andamento, agrediram jogadores e... o árbitro aguardou, pacientemente, que eles terminassem o serviço e mandou o jogo prosseguir! Ou seja; se o Náutico tivesse um mínimo de competência (felizmente não teve) podia mudar o resultado do jogo. Quero ver o que o tribunal vai decidir, agora. Talvez considerem que a ira dos torcedores era justa e, já que ninguém foi morto, fica tudo por isto mesmo. Mas se a Carol Portaluppi voltar a invadir um gramado vai provavelmente ser presa e banida das arquibancadas para sempre, e o Grêmio vai perder uns 200 mandos de campo.
Sei lá, acho que estou ficando velho...

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Na eleição dos horrores, Crivella errou menos e ganhou

O quadro da eleição carioca estava bem definido desde cedo; Crivella iria para o segundo turno, apoiado pelos seus fieis seguidores evangélicos (que, somados aos admiradores que a família Garotinho ainda consegue atrair, chegavam a uns 30% do eleitorado), mas seria derrotado por qualquer um, uma vez que teria dificuldades de formar alianças. Do outro lado do ringue Eduardo Paes, embalado pelo sucesso da Olimpíada e das obras relacionadas a ela, tinha a faca, o queijo e o vinho na mão. Contra ele apenas a sua conhecida incontinência verbal aguda e irreversível, mas a situação era tão absurdamente confortável que nem isto parecia capaz de derrota-lo.
Neste cenário de mar de almirante, era preciso não um erro, mas uma sucessão deles para que as coisas desandassem. E o pior aconteceu. Fazendo um histórico rápido, temos;
a) Eduardo Paes conseguiria eleger um cone, mas não um Luís Paulo. Entre outras coisas, porque cone não bate em mulher (pode ser até utilizado como arma, mas não me parece muito eficiente). Para completar a dupla dinâmica, escolheu como vice a Sra. Cidinha Campos, outrora uma entrevistadora de sucesso, hoje uma senhora descontrolada, cujo desempenho de chefe de claque no debate do primeiro turno ajudou a derrubar mais ainda o pobre candidato do prefeito. Qualquer um seria melhor que Luís Paulo, mas Paes achou que era o senhor do universo. E jogou ao vento a vaga e a vitória no segundo turno, que pareciam certas.
b) Ungido pelos deuses com esta segunda vaga, Marcelo Freixo preferiu ser PSOL do que ser razoável. Resolveu combater o fundamentalismo religioso de Crivella com outro fundamentalismo, o bolivariano, que o Brasil inteiro já expeliu como se fosse um cálculo renal. Repetiu mantras totalmente fora de contexto como “Fora Temer”, “Imprensa golpista”, enfim, só faltou gritar “Não vai ter Copa!” ou alguma sandice equivalente. Além disto, dedicou quase todo o seu tempo a tentar denegrir seu adversário, enfim, bebeu da fonte de ódio e suposta perseguição que alimentou o PT durante algum tempo, mas não funciona mais (sem esquecer que Lula tem muito mais talento para posar de vítima do que ele). Estratégia totalmente errada, que afastou todas as alianças possíveis.
c) Sentindo a inesperada chance de vitória se concretizando, Crivella agiu com sabedoria; colocou-se muito mais como “engenheiro” do que como “bispo”, deu ênfase ao seu lado “técnico e administrador”, escondeu até onde foi possível os aliados inconvenientes (Garotinho, o tio Edir Macedo e outros), chegando ao exagero de chamar os umbandistas de “irmãos” (só não apareceu consultando uma mãe-de-santo porque não foi necessário, afinal o eleitorado espírita não é tão grande assim). Jogou o jogo certo e conseguiu um resultado surpreendente, com quase 60% dos votos válidos.
d) Antes de terminar, uma palavra sobre a mídia; foi quase comovente o esforço que o pessoal da Globo e da Veja fez para tentar derrubar o Crivella (leia-se; rede Record). Valeu tudo; declarações antigas, fotos comprometedoras, frases fora do contexto, enfim, todo o arsenal disponível foi utilizado. E o resultado? Zero. O que deixou claro uma teoria que sustento há muito tempo; este poder quase sobrenatural que alguns atribuem a tal “imprensa golpista” não passa de ilusão. Lula e Dilma não foram derrubados pela imprensa, eles se enrolaram sozinhos. Crivella, aparentemente, era um alvo muito mais fácil, e saiu ileso.
No fim das contas, ficamos com o menor dos dois males. E com a certeza que Crivella terá de governar pisando em ovos de codorna, tal a pressão que vai ter em cima dele.
Que Deus tenha piedade desta cidade olímpica e maravilhosa!