quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O FUTEBOL NÃO FOI DEVIDAMENTE PREPARADO PARA A NOVA TECNOLOGIA. E DEU NO QUE DEU...

Cercado de grande publicidade estreou, no Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, o chamado “árbitro de vídeo”, já utilizado normalmente em diversos esportes.
Depois de passar em branco nas primeiras partidas, hoje o tal árbitro de vídeo tomou sua primeira decisão. E com um equívoco catastrófico; chamou a atenção do juiz para um suposto pênalti (que não havia sido reclamado por ninguém) que, confirmado, acabou resultando no primeiro gol dos japoneses do Kashima, um lance que os ajudou muito a construir a sua vitória.
Uma análise mais precisa mostrou que o jogador que sofreu o pênalti estava em condição ilegal (impedimento) o que, na opinião da maioria dos comentaristas, invalidaria a jogada antes da falta ser cometida. Resumindo; o tal de árbitro de vídeo, idealizado como solução para todos os problemas, acabou virando fonte de discórdia, ao transformar uma jogada que passou despercebida em um lance capital para o resultado do jogo.
Mais do que a choradeira pela derrota do Atlético Nacional de Medellin que, em função dos acontecimentos recentes, tornou-se o terceiro time do coração de todos os brasileiros (o segundo, claro, é a Chapecoense), o fato é que a lambança acabou dando fortes argumentos para os inimigos da tecnologia, aqueles que querem que o futebol continue com suas regras antediluvianas para todo o sempre.
Nestas horas um pouco de embasamento teórico é bom. Lá pelos anos 1990, uma palavra se tornou obrigatória no jargão empresarial; reengenharia. O conceito, criado por Michael Hammer, indicava mais ou menos o seguinte; em função dos avanços tecnológicos, era preciso pensar não apenas em colocar computadores substituindo ou auxiliando seres humanos, mas sim em mudar o processo como um todo. Uma de suas melhores frases era; “Não automatize, destrua!”. Dando um exemplo prático; até os anos 1970, o ato de sacar dinheiro em um banco envolvia uma agência bancária (física) e funcionários para receber o cheque, conferir o saldo e entregar o dinheiro para o cliente, numa operação demorada que só podia ser feita durante o expediente bancário. A tecnologia “reengenheirou” este processo; hoje, basta uma máquina, uma conexão de internet e um cartão para que o cliente possa sacar dinheiro a qualquer hora e em qualquer lugar, sem a menor dificuldade.
Hammer foi criticado por muita coisa que não disse e nem fez (afinal todo o revolucionário sofre este tipo de ataque), mas nada disto invalida a sua teoria. Levando esta situação para o futebol, entendo que a tecnologia tem que ser introduzida, mas junto com mudanças no processo, e isto, aparentemente, não foi feito.
Deixo aqui duas sugestões simples para implementar a mudança;
1) Assim como ocorre no vôlei e no tênis, entendo que o árbitro de vídeo só deve ser consultado quando houver um “desafio”. Ou seja; no caso do pênalti de hoje, seria necessário que, imediatamente após a falta, os japoneses solicitassem a interrupção do jogo, para análise de vídeo. Para evitar que isto se transforme numa estratégia para segurar o jogo, deve-se seguir a mesma regra do vôlei e do tênis; o time só poderá perder três desafios ao longo da partida (ou seja, só pede o desafio quando tiver certeza que foi prejudicado);
2) Detalhe importante; como este tipo de coisa vai gerar interrupções, acho que seria a hora de introduzir uma “reengenharia” que o futebol está pedindo há muito tempo; a cronometragem fora de campo. Chega a ser ridículo que o juiz, com seu cronômetro de pulso, controle o tempo de partida e acrescente o que quiser. Isto valia no tempo em que um cronômetro era artigo raro, e nem se sonhava com placares eletrônicos. Hoje, qualquer um pode ser o “operador do cronômetro”, paralisando-o nos desafios, assim como nas substituições, atendimentos médicos, comemorações de gols, etc... Isto acabaria com boa parte dos problemas que temos hoje (cera, simulação de contusões, atrasos na reposição da bola, etc...). O tempo de jogo poderia ser reduzido para dois tempos de 35 minutos, por exemplo. Tenho certeza que o espetáculo melhoraria muito, e os problemas disciplinares diminuíram bastante.
Enfim, são propostas de um engenheiro absolutamente fanático por futebol e que convive com mudanças tecnológicas todos os dias. E que entende que, assim como nas empresas, a tecnologia no futebol deve ser implantada (é inevitável), mas tomando todos os cuidados necessários para que a mudança seja sempre positiva.
Até a próxima.

sábado, 26 de novembro de 2016

No meu tempo, isto se chamava "dois pesos e duas medidas"

Da série “coerência é bom e eu gosto”;
Dois “causos” que me mostram que está cada vez mais difícil entender algumas coisas neste estranho mundo de hoje.
Causo 1;
A torcida brasileira resolveu imitar outras e gritar em coro “bicha!” para o goleiro adversário na hora do tiro de meta. Brincadeira de mau gosto, certo, mas duvido que algum goleiro do mundo se ofenda mortalmente com isto. A FIFA considera este ato “intolerável”, aplica uma multa de milhares de dólares e ainda ameaça com outras punições em caso de reincidência.
Por outro lado, a torcida do Corinthians, no jogo contra o Internacional, cantou uma música estúpida, que comemora a morte do jogador Fernandão, ídolo do Colorado (aliás, a do Grêmio já tinha feito isto, num grenal). Nenhuma punição foi cogitada – afinal, é coisa de “torcedor”. Prá mim, na escala de boçalidade, seria dez vezes pior, no mínimo.
Causo 2;
A filhinha sem noção do treinador do Grêmio entra no campo da Arena, a convite do papai, depois do encerramento de um jogo, e tira um monte de “selfies”, deslumbrada. O Grêmio é punido com a perda de um mando de campo, multa e mais não sei o que.
Por outro lado, hoje, torcedores do Náutico, irritados com a derrota do time para o Oeste, invadiram o campo com o jogo em andamento, agrediram jogadores e... o árbitro aguardou, pacientemente, que eles terminassem o serviço e mandou o jogo prosseguir! Ou seja; se o Náutico tivesse um mínimo de competência (felizmente não teve) podia mudar o resultado do jogo. Quero ver o que o tribunal vai decidir, agora. Talvez considerem que a ira dos torcedores era justa e, já que ninguém foi morto, fica tudo por isto mesmo. Mas se a Carol Portaluppi voltar a invadir um gramado vai provavelmente ser presa e banida das arquibancadas para sempre, e o Grêmio vai perder uns 200 mandos de campo.
Sei lá, acho que estou ficando velho...

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Na eleição dos horrores, Crivella errou menos e ganhou

O quadro da eleição carioca estava bem definido desde cedo; Crivella iria para o segundo turno, apoiado pelos seus fieis seguidores evangélicos (que, somados aos admiradores que a família Garotinho ainda consegue atrair, chegavam a uns 30% do eleitorado), mas seria derrotado por qualquer um, uma vez que teria dificuldades de formar alianças. Do outro lado do ringue Eduardo Paes, embalado pelo sucesso da Olimpíada e das obras relacionadas a ela, tinha a faca, o queijo e o vinho na mão. Contra ele apenas a sua conhecida incontinência verbal aguda e irreversível, mas a situação era tão absurdamente confortável que nem isto parecia capaz de derrota-lo.
Neste cenário de mar de almirante, era preciso não um erro, mas uma sucessão deles para que as coisas desandassem. E o pior aconteceu. Fazendo um histórico rápido, temos;
a) Eduardo Paes conseguiria eleger um cone, mas não um Luís Paulo. Entre outras coisas, porque cone não bate em mulher (pode ser até utilizado como arma, mas não me parece muito eficiente). Para completar a dupla dinâmica, escolheu como vice a Sra. Cidinha Campos, outrora uma entrevistadora de sucesso, hoje uma senhora descontrolada, cujo desempenho de chefe de claque no debate do primeiro turno ajudou a derrubar mais ainda o pobre candidato do prefeito. Qualquer um seria melhor que Luís Paulo, mas Paes achou que era o senhor do universo. E jogou ao vento a vaga e a vitória no segundo turno, que pareciam certas.
b) Ungido pelos deuses com esta segunda vaga, Marcelo Freixo preferiu ser PSOL do que ser razoável. Resolveu combater o fundamentalismo religioso de Crivella com outro fundamentalismo, o bolivariano, que o Brasil inteiro já expeliu como se fosse um cálculo renal. Repetiu mantras totalmente fora de contexto como “Fora Temer”, “Imprensa golpista”, enfim, só faltou gritar “Não vai ter Copa!” ou alguma sandice equivalente. Além disto, dedicou quase todo o seu tempo a tentar denegrir seu adversário, enfim, bebeu da fonte de ódio e suposta perseguição que alimentou o PT durante algum tempo, mas não funciona mais (sem esquecer que Lula tem muito mais talento para posar de vítima do que ele). Estratégia totalmente errada, que afastou todas as alianças possíveis.
c) Sentindo a inesperada chance de vitória se concretizando, Crivella agiu com sabedoria; colocou-se muito mais como “engenheiro” do que como “bispo”, deu ênfase ao seu lado “técnico e administrador”, escondeu até onde foi possível os aliados inconvenientes (Garotinho, o tio Edir Macedo e outros), chegando ao exagero de chamar os umbandistas de “irmãos” (só não apareceu consultando uma mãe-de-santo porque não foi necessário, afinal o eleitorado espírita não é tão grande assim). Jogou o jogo certo e conseguiu um resultado surpreendente, com quase 60% dos votos válidos.
d) Antes de terminar, uma palavra sobre a mídia; foi quase comovente o esforço que o pessoal da Globo e da Veja fez para tentar derrubar o Crivella (leia-se; rede Record). Valeu tudo; declarações antigas, fotos comprometedoras, frases fora do contexto, enfim, todo o arsenal disponível foi utilizado. E o resultado? Zero. O que deixou claro uma teoria que sustento há muito tempo; este poder quase sobrenatural que alguns atribuem a tal “imprensa golpista” não passa de ilusão. Lula e Dilma não foram derrubados pela imprensa, eles se enrolaram sozinhos. Crivella, aparentemente, era um alvo muito mais fácil, e saiu ileso.
No fim das contas, ficamos com o menor dos dois males. E com a certeza que Crivella terá de governar pisando em ovos de codorna, tal a pressão que vai ter em cima dele.
Que Deus tenha piedade desta cidade olímpica e maravilhosa!

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Geraldo Eustáquio / Letícia Lanz – a inteligência que arrasa com o preconceito

No início dos anos 2000 conheci, em um encontro gerencial da Petrobras, um consultor chamado Geraldo Eustáquio. Participei de alguns eventos coordenados por ele, e sempre me chamou a atenção por sua inteligência e bom humor. Cito até hoje, em sala de aula e em eventuais artigos, algumas das lições que aprendi com ele, e de vez em quando acompanhava seus textos e poesias pela internet.
E foi pela internet que fiquei sabendo, há algum tempo, que ele resolveu adotar uma identidade feminina, com o nome de Letícia Lanz. Na última segunda-feira, quando assistia o programa “Papo de Segunda”, um dos últimos refúgios de inteligência que restam na TV brasileira, vi que Letícia Lanz era a convidada de honra. E ela (ou ele) fez um belíssimo papel, mesmo enfrentando a concorrência dos quatro craques que formam o time permanente do programa (Marcelo Tas, Leo Jaime, Xico Sá e João Marcelo).
Letícia/Geraldo contou sua história com simplicidade, inteligência e bom humor, exatamente como nos tempos de consultoria na Petrobras. Era um homem inteligente, e a impressão que tive é que agora, livre dos seus fantasmas mais íntimos, ficou ainda melhor (não sei se devo chama-lo de “mulher inteligente”; é um ser humano inteligente, e fim de papo).
O mais legal é que ele recusou-se, o tempo todo, a cair na armadilha do coitadismo, do sofrimento, da dor do preconceito, enfim, esta ladainha “politicamente correta” que já se tornou prá lá de chata. Geraldo virou Letícia e pronto; não quer revanche, não ergue bandeiras, não tem ódio no coração. Porque a guerra contra o preconceito não se ganha apenas em batalhas épicas, com passeatas e decisões judiciais; é muito mais eficiente a guerrilha da inteligência, do talento e da convivência no dia a dia. Neste ponto um grande momento do programa foi quando Marcelo Tas, que é pai de uma filha que virou filho, deu um depoimento bem humorado sobre o assunto, citando sua outra filha que, com apenas nove anos na época, foi a pessoa que entendeu com mais facilidade que a irmã agora era irmão. A menina apenas falou; “prá que tanto mistério, ela (ou ele) sempre foi assim!”. Raciocínio infantil, simples e genial. Sem necessidade de cartilhas complexas ou manifestações de rua para ensina-la.
Pessoal; quem não viu, procure o programa no site do GNT, vale a pena desfrutar de uma hora de inteligência e humor de qualidade, coisa quase inexistente no Brasil de hoje, polarizado, agressivo e burro, infelizmente. Fiquei orgulhoso de um dia na vida ter participado de vários debates com Letícia (que na época era Geraldo, mas isto é o que menos importa). E mais uma vez fiquei certo que a maior arma contra o preconceito não é a imposição da neurose politicamente correta que, muitas vezes, não passa de um outro preconceito, às avessas; é a conversa inteligente e, acima de tudo bem humorada.
O resumo da história é; Geraldo, depois de ter nascido homem, ter sido marido, pai e avô, decidiu ser Letícia. Está feliz assim, e cada vez mais talentoso. Um ser humano dos melhores que conheci, um tipo que orgulha a espécie. Usando a linguagem de futebol, que eu adoro, a história dele é uma espécie de 7x1 no preconceito. Sem vitimismo nem lágrimas, pelo contrário, com muito bom humor. Como tem que ser.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

DE ROMÁRIO A NEYMAR, A ETERNA QUESTÃO; COMO LIDAR COM UM CRAQUE QUE EXIGE TRATAMENTO DIFERENCIADO?

Corria o ano de 1993, e a seleção brasileira se preparava para uma partida decisiva contra o Uruguai pelas eliminatórias para a Copa do Mundo do ano seguinte, que seria disputada nos Estados Unidos. Era o último jogo (naquele tempo as eliminatórias ainda eram disputadas em grupos menores, depois foi que passaram para o formato atual de todos contra todos), e o Brasil, em caso de derrota, estaria fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez na sua história.
Romário, sem dúvida o maior craque daquela geração e um dos maiores da história do futebol, estava banido da seleção pelos treinadores Parreira e Zagalo, por conta de diversas estripulias que havia aprontado e que não vamos citar aqui para não alongar muito o texto. Só que o jogo era de vida ou morte e Careca, o centroavante titular, estava fora de combate. Bebeto, o segundo atacante, era dúvida (acabou jogando), e a formação com os dois reservas, Evair e Valdeir, tinha fracassado no jogo anterior contra a Venezuela quando o Brasil, mesmo ganhando, deixou o campo sob uma intensa vaia. No mesmo fim de semana o exilado Romário, com a camisa do Barcelona, tinha uma atuação de luxo no clássico contra o Atlético de Madri, com direito a três gols, sendo um por cobertura.
Depois de uma tensa reunião entre os membros da comissão técnica chegou-se à conclusão que o negócio era engolir todos os sapos e chamar o baixinho de volta; a fúria da torcida em caso de derrota poderia se tornar incontrolável. Romário – que, como acontece com os craques de verdade, sempre se agigantou nas decisões – deu um verdadeiro show de bola, marcando os dois gols do jogo, foi definitivamente perdoado e acabou sendo a grande referência técnica do time que, aos trancos e barrancos, foi campeão do mundo no ano seguinte.
Oito anos depois, Romário voltou a ser o centro de uma polêmica, ao ser mais uma vez cortado do grupo da seleção brasileira pelo novo técnico, Felipão. O motivo foi o mesmo de sempre; craque dentro de campo, egoísta e desagregador fora dele. Os tempos eram outros, oito anos em futebol cobram o seu preço, e Romário não era mais um jogador tão decisivo quanto fora em 94. Felipão preferiu apostar na sua disciplinada “família Scolari” e bancou como centroavante um Ronaldo Fenômeno fisicamente frágil, recuperando-se de quase dois anos de inatividade com direito a cirurgias e mais cirurgias. O Brasil foi campeão, Ronaldo foi o artilheiro decisivo, Scolari saiu como herói (naquele tempo ninguém sonhava com o vexame de 2014), e Romário se aposentou pouco tempo depois.
A conclusão que podemos tirar disto tudo é que existem sempre maneiras diferentes de lidar com uma questão, e todas podem levar ao sucesso e ao fracasso. Até que ponto uma comissão técnica deve ceder às exigências de um fora de série indisciplinado? Como toda a discussão sobre futebol, esta pode durar até a morte, ou até acabar a cerveja, o que vier primeiro. Só para embaralhar mais a situação contamos dois “causos” em que atitudes diametralmente opostas levaram ao sucesso. Repetindo o mantra utilizado por dez entre dez consultores na área de projetos, onde atuo, “cada caso é um caso”.
Falei tudo isto para chegar em Neymar, o nosso gênio-rebelde da vez. Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que existe uma diferença enorme entre os dois; Romário é, acima de tudo, um gênio preguiçoso e divertido, definido magnificamente por Tom Cavalcante na frase “treinar prá que, se eu já sei o que fazer”. Romário sabia o que fazer, tinha uma confiança ilimitada no seu potencial, portanto não gostava de treinar nem de correr muito em campo. Uma atitude arrogante, sem dúvida, mas revestida de uma simpática “malandragem suburbana”. Tanto é que Romário raramente era expulso, e não colecionou inimigos no futebol. Neymar, fruto de um tempo diferente, onde a superexposição na mídia exagera tudo o que um ídolo diz ou faz, é um garoto mimado, multimilionário, que não gosta de ser contrariado e se porta quase sempre de forma agressiva, tentando sempre humilhar os outros nas vitórias e perdendo a cabeça com extrema facilidade quando seu time está sendo derrotado.
Tite, o gerente da vez, tenta ajeitar as coisas, com seu estilo elegante e falar rebuscado, mas o problema é, basicamente, o mesmo; como controlar as vontades de um jogador que sabe que é muito melhor que os outros, e quer receber um tratamento diferenciado por isto. O último cartão amarelo que Neymar levou me parece característico disto; num jogo decidido desde o primeiro tempo, contra um adversário muito inferior, ele tantas fez que arranjou uma encrenca e levou o amarelo que o suspendeu do jogo seguinte. A atitude foi tão grotesca que permite que se levante a suspeita; será que foi de propósito? Afinal, Neymar se livrou de uma viagem à Venezuela sem o menor atrativo, e, cumprindo suspensão em um jogo teoricamente mais fácil, acabou preservado para o clássico contra a Argentina. Bom prá todo mundo... Diga-se de passagem, se a ideia era receber o cartão de forma proposital, bastava interceptar uma bola com a mão – não precisava quase sair na porrada com os bolivianos. E se realmente o problema foi o temperamento de Neymar, um justo e simples castigo seria obriga-lo a viajar junto com o grupo e cumprir a agenda de treinos, e não dar-lhe uma folga como “prêmio” pelo cartão bobo que tomou.
Resumindo, a história de Neymar ainda está em andamento, portanto não podemos dizer ainda se a forma de agir de seus gerentes deu certo ou deu errado. Só o futuro e os resultados dirão isto. Lembrando sempre que a sorte faz parte deste jogo; nunca é demais lembrar que Romário foi campeão do mundo em 94 num campeonato decidido nos pênaltis. E que, no pênalti que ele próprio bateu (por imposição dele, que, obviamente, não tinha treinado cobranças, segundo depoimentos de quem estava lá), a bola tocou a trave e, caprichosamente, acabou entrando, do mesmo jeito que poderia ter saído. Tenho certeza que os deuses do futebol sempre estão a favor dos grandes craques, sejam bad boys ou não, e deram uma forcinha prá bola entrar... Romário merecia.
O assunto é longo e merece mais um texto mas, por enquanto vamos ficando por aqui. Até a próxima.

sábado, 24 de setembro de 2016

Veríssimo faz 80 anos. Longa vida para o mestre!

Da série “não preciso odiar todo mundo que pensa diferente de mim”;
Segunda-feira será um dia de festa para a cultura e inteligência nacional; Luiz Fernando Veríssimo completa 80 anos, ainda em boa forma intelectual.
Minhas discordâncias com o Veríssimo começam muito antes do PT, afinal ele é colorado e eu gremista. Mas nem por isto vou deixar de ler tudo o que ele produz; na minha opinião é um dos melhores cronistas que este país já teve, um cara tão bom quanto Stanislaw Ponte Preta, Fernando Sabino e vários outros que já estão do lado de lá.
Hora de agradecer ao Globo, este órgão da dita “imprensa golpista” que, estranhamente, mantém em seu quadro de colaboradores um cara que fala sempre a favor do Lula e do PT. Tenho certeza que, em países muito mais próximos do ideal populista do que o nosso, como é o caso de Cuba, Venezuela e Coreia do Norte, o espaço de discordância é bem menor... (aviso; esta frase foi escrita com o modo Ironia “on”, prá quem não entendeu).
Ironias e discordância à parte, o Brasil inteligente precisa de Luiz Fernando Veríssimo e ainda vai precisar por muitos anos, por isto desejo; feliz aniversário, grande mestre! Só não desejo felicidades para seus amigos petistas e muito menos para o Internacional...

terça-feira, 6 de setembro de 2016

NEM MÁRTIR, NEM BANDIDA; DILMA FOI APENAS UMA GERENTA INCOMPETENTA

Na onda de radicalização burra e xiita que atravessamos, um dos aspectos quase divertidos (seria cômico, se não fosse trágico), é a briga de adjetivos travada entre os partidários da “Presidenta” deposta e os adversários dela.
Os Dilmistas a chamam de “brilhante”, “carismática”, “revolucionária”; os anti-Dilma respondem com “ladra”, “assassina”, “chefe de quadrilha” e outros que tais.
Pessoal, Dilma não é nada disto. Duvido que tenha se apropriado indevidamente de um centavo que fosse, e neste aspecto seu comportamento difere totalmente da grande maioria dos seus companheiros de partido (vá lá, roubar não é privilégio do PT; ela difere da maioria dos políticos, de todos os partidos, tá bom assim?). Mas, certamente, tinha conhecimento de tudo e deu cobertura aos “malfeitos”, portanto não deixa de ter sua parcela de culpa nesta história. Seu suposto “brilhantismo” é desmentido por seus discursos estapafúrdios, e seu carisma, que ninguém nos ouça, é equivalente ao de um saco de batatas.
Dilma participou de uma tentativa de revolução, uma luta armada em que seu grupo tentava combater a ditadura existente e substitui-la por outra, de orientação diferente. Numa luta armada pessoas morrem, portanto mesmo que seja verdadeira a versão que a coloca como participante de um atentado onde um soldado foi vítima, isto não a torna “assassina”; era uma guerra. No fim das contas, a turma de Dilma perdeu. Simples assim. No máximo podemos louvar sua coragem juvenil em lutar pelo que acreditava.
Na verdade, mesmo, o que fez Dilma cair em desgraça foi sua absoluta incompetência para exercer o cargo que ganhou de presente do “companheiro” Lula. Lula é, sem dúvida, inteligente e carismático, e escolheu Dilma para o que seria o seu “terceiro mandato” em 2010 por falta de opção, uma vez que os quadros mais qualificados do PT já àquela altura estavam enrolados em tenebrosas transações.
Dilma nunca se sentiu à vontade como comandante da economia e da política, sua falta de habilidade e incompetência ficou evidente desde o primeiro dia no emprego, e hoje nem seu criador pensa em defendê-la. Duvido que alguém no próprio PT levante a bandeira de “Dilma 2018”, ainda que seus direitos políticos tenham sido mantidos. Dilma passará à história como a primeira mulher a assumir a Presidência da República, o que seria uma coisa muito boa; infelizmente, também ficará registrada como uma das mais incompetentes figuras a ocupar o nobre cargo.
Aliás, uma boa comparação para o caso dela seria com outra mulher que chegou para marcar época e fez feio; Zélia Cardoso de Mello, ungida, em 1990, pelo então Presidente Collor como a mulher que colocaria a economia do Brasil nos eixos. Zélia seria a mulher mais “empoderada” da história do Brasil até então, se este termo horroroso existisse na época. E o que se lembra dela, hoje? Um desastre na economia, um “caso” rumoroso com outro ministro, depois mulher e ex-mulher do insaciável Chico Anísio e... sumiu.
Otimista que sou, acredito que, assim como depois de Zélia tivemos muitas mulheres de destaque em todos os campos da política e da economia, algum dia vamos ter uma mulher na presidência da República que fará um grande papel. E Dilma será lembrada apenas como a primeira, mas não das mais brilhantes.
E, se não for pedir muito, gostaria que nunca mais alguém ousasse pensar em utilizar a palavra “Presidenta”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O OURO FOI PARA O FUTEBOL BRASILEIRO, MAS O MODELO ALEMÃO AINDA É O MELHOR. E NADA IMPEDE QUE O BRASIL O ADOTE

A conquista da inédita medalha de ouro no futebol masculino das Olimpíadas gerou uma justa euforia em todos nós, torcedores fanáticos da camisa amarela. Todavia, passado o momento de emoção, cabe refletir um pouco sobre o que aconteceu e quais os próximos passos.
A verdade dos fatos é a seguinte; conquistar este ouro era uma obsessão para o futebol brasileiro, e o fato dos jogos serem realizados no Brasil aumentava consideravelmente as nossas chances. Tenho quase certeza que ninguém levou esta competição mais a sério do que o Brasil. Foram feitos esforços diplomáticos para poder contar com jogadores que atuavam fora do País, entre os quais o fora de série Neymar, o homem que iria fazer a diferença em campo – e acabou fazendo, pelo menos nos jogos mais importantes e decisivos.
Numa final cheia de simbolismos, encontramos a velha Alemanha dos 7x1. Tudo bem, não eram os melhores alemães disponíveis, mas pelo menos era um time alemão. E conseguimos a tão sonhada vingança – tudo bem, foi nos pênaltis, mas vitória é vitória. Só que, se pensarmos no jogo em si, o time alemão não foi, em nenhum momento, inferior ao nosso. Certamente o Brasil pressionou mais, mas nunca foi soberano absoluto da partida, e esbarrou sempre na obstinação de um time claramente inferior, do ponto de vista técnico, mas organizado e consciente para atacar e defender. E que, cá prá nós, poderia perfeitamente ter ganho.
E é neste ponto que eu volto a pensar sobre o projeto e o modelo alemão. Acho que já escrevi algum dia sobre isto, mas vale repetir; o investimento pesado que o governo alemão vem fazendo há uns quinze anos no futebol não tem como objetivo principal apenas o sucesso nas competições esportivas; a ideia é integração racial e social. Num país marcado por problemas de xenofobia, eles entenderam que, se colocassem a meninada para jogar bola desde a infância, eles entenderiam a linguagem sagrada do futebol, onde não existem brancos, pretos, amarelos ou verdes. Deu certo, e hoje os ídolos destas crianças podem ser negros como Boateng, turcos como Ozil, poloneses como Klose, ou mesmo arianos legítimos como Neuer. Tudo junto e misturado, como sempre tem que ser. E, de quebra, ganharam um padrão de jogo que se estende desde as categorias de base até a seleção principal e, melhor ainda, inclui o futebol feminino – não por coincidência, as alemãs ganharam a medalha de ouro na modalidade. Ou seja, no fim das contas, o desempenho deles foi melhor que o nosso, fizeram as duas finais. Aliás, a Alemanha sempre está chegando nas finais em todo o torneio que disputa.
Neste ponto, é bom ressaltar que o sucesso do projeto também passa pelo comportamento inteligente do torcedor alemão; eles entendem que ser segundo ou terceiro não é vergonha, ao contrário dos nossos “craques de sofá”, que nunca jogaram nada na vida mas acham que, quando o Brasil não é campeão, o time é uma merda e tem que mudar tudo. Infelizmente estas pragas não ficam apenas no futebol; o que Bernardinho e o time de vôlei masculino, que acumularam vices nos últimos tempos, foram bombardeados por estes xiitas foi uma coisa doentia, capaz de tirar a paciência de um São Francisco de Assis. Felizmente ganharam agora, e calaram a boca desta turma, pelo menos por enquanto.
Resumindo, sempre procuro pensar em como será o Brasil no dia em que a gente juntar, ao nosso talento natural, a capacidade de planejar e executar um projeto que os alemães têm. Talvez seja um sonho, mas sonhar não custa nada...
Até a próxima.

domingo, 7 de agosto de 2016

O BOM DEBATE É A CHAVE DO SUCESSO – E NÓS, BRASILEIROS, TEMOS QUE APRENDER ISTO

Desde que me aposentei passei a ser um usuário bem ativo das redes sociais. Afinal, é um bom lugar para rever antigos amigos, e “conversar” sobre diversos assuntos. Como em todo o lugar onde o acesso é livre, sempre existem os tipos mal educados e grosseiros, mas, de um modo geral, sempre foram minoria e havia o recurso de bloqueá-los. Só que, nos últimos meses, estou vendo esta situação sair do controle.
Pouco depois da votação do impeachment, postei um artigo condenando a atitude do deputado Jean Wyllis, que cuspiu no deputado Jair Bolsonaro. Meu artigo não teve qualquer conotação política; se fosse o Bolsonaro a cuspir no Jean Wyllis, minha atitude de condenação seria exatamente a mesma, afinal entendo que ninguém pode cuspir em ninguém, muito menos em plena Câmara dos Deputados. Pois bem, um amigo de longa data me bloqueou, e ainda me deixou um comentário desaforado, dizendo que “não era possível conviver com um cara que defende o Bolsonaro”. E eu não estava defendendo o Bolsonaro, nem sou simpatizante dele...
Ontem, antes da cerimônia de abertura dos Jogos do Rio, um amigo colocou no Face algo como um chamamento para vaiar o Temer. Imediatamente a discussão virtual começou. Coxinha prá lá, petralha prá cá, até que uma moça, criticando um cara que postava “memes” anti-PT sem parar, mandou esta; “Fulano, o wi-fi do hospício deve ser bom, né? Porque você não para de postar”. A resposta do rapaz desceu alguns tons na escala de civilização; “a do puteiro também deve ser boa, porque você não para, também”. Parei de ler ali mesmo. Detalhe; eram dois engenheiros, cinquentões, meus ex-colegas de Petrobras, pessoas de “fino trato”, como se diria antigamente. Ela chamando o cara de louco, ele a chamando de puta.
Minha conclusão é que perdemos totalmente os parâmetros. Só que, otimista que sou, vejo esta crise como oportunidade; é bom que nossa falta de educação e civilidade venha logo para a vitrine, acabando com o mito do “brasileiro cordial e bem humorado” em que acreditamos durante muito tempo. Conforme eu digo sempre, se o brasileiro fosse assim não teríamos 50 mil homicídios por ano (medalha de ouro neste triste quesito). E penso que esta incapacidade de conviver com opiniões diferentes é responsável por boa parte do nosso atraso.
Buscando subsídios para a minha tese, li o excelente livro “Um país sem excelências e mordomias”, escrito pela jornalista Cláudia Vallim sobre a Suécia, onde ela mora há mais de quinze anos. Lá pelas tantas, ela diz que “o esporte preferido dos suecos é o debate”. Veja bem; eles adoram discutir, trocar ideias, e concluir algo. E a partir do momento em que a decisão é tomada, todo mundo trabalha para que seja um sucesso. Sem ressentimentos. Isto explica muito a diferença de nível entre a Suécia e o Brasil.
Outro exemplo que podemos citar é o povo judeu. Não sou judeu, mas acho estatisticamente fantástico que um povo que soma cerca de 15 milhões de pessoas no mundo todo (ou seja, míseros 0,2% da população do planeta) tenha ganho 20% dos prêmios Nobel até hoje, só para ficar em um item. Na área de gerenciamento de projetos, onde atuo, as duas grandes autoridades reconhecidas mundialmente são Aaron Shenhar e Harald Kerzner, ambos judeus. Tentando entender o sucesso deles, chamou-me a atenção uma frase de Jonathan Sacks, rabino-chefe da Comunidade Britânica; “No judaísmo estamos acostumados à discussão. Somos uma religião de debatedores. Só porque discutimos não quer dizer que não possamos ser amigos”. Perfeito. Agora ficou claro.
Enfim, poderia buscar outros milhares de exemplos, mas entendo que a tese é simples; o que faz a grandeza de um povo ou de um país são as boas discussões. E a boa discussão é aquela onde o objetivo não é ganhar nem humilhar o outro, mas chegar a uma boa conclusão. E é este o ponto em que estamos falhando. E cabe a nós mesmos modificar este estado de coisas. Independente de ser coxinha ou petralha.
Para concluir o artigo, uma opinião de “Pepe” Mujica, o folclórico presidente do Uruguai, sem dúvida uma das figuras mais interessantes e respeitáveis da política latina. Ontem, em um seminário em Curitiba, ele disse que a “conta pendente do povo brasileiro é não permitir que o ódio germine por divergências políticas”. Falou e disse, como se falava (e dizia) no meu tempo de jovem.
Resumindo, ou a gente aprende a respeitar a opinião alheia, ou vamos continuar no atoleiro, você decide.
Até a próxima.

sábado, 23 de julho de 2016

O DOPING, O “TUDO POR DINHEIRO” E A DEGRADAÇÃO DO CONCEITO DE ESPORTE

Desde que me entendo por gente sou um verdadeiro fanático por esportes, principalmente os jogos de bola, como futebol, basquete e vôlei. A ideia da competição esportiva me parece ser uma grande metáfora para a trajetória do ser humano na Terra, ou talvez mais ainda; é a demonstração da essência do darwinismo, onde alguns conseguem chegar ao primeiro lugar e os outros ficam pelo caminho. Tudo isto sem mortes, sem nem mesmo gerar inimizades, ao contrário, trazendo respeito e admiração mútua entre os que vencem e os que perdem, além das lições aprendidas (vou fazer melhor na próxima vez). Por tudo isto, sempre vi o esporte como, provavelmente, a mais nobre das atividades humanas.
Tentei jogar basquete, futebol e vôlei mas, infelizmente, minha paixão pela bola nunca foi correspondida, e não passei do estágio de “medíocre” em nada do que fiz. Independente do meu péssimo desempenho no campo e nas quadras, considero que o esporte me foi útil em diversos aprendizados importantes; a importância do trabalho em equipe, o respeito ao adversário, o esforço para melhorar sempre a minha competência (para quem não sabe, as palavras competição e competência têm a mesma origem), e, principalmente, o respeito pelo próprio corpo. Graças ao esporte desenvolvi hábitos saudáveis que são importantes para que eu goze de uma saúde muito boa até hoje, com mais de sessenta anos.
O problema é que o esporte, principalmente em nível de competição, mudou muito nos últimos quarenta anos. Com o desenvolvimento das telecomunicações, os eventos esportivos passaram a ter um impacto global; enquanto os jogos de Pelé e seus contemporâneos eram precariamente transmitidos por redes de TV incipientes, hoje cada gesto de Cristiano Ronaldo e seus pares, dentro ou fora do campo, tem repercussão imediata no mundo todo. Os outros esportes seguiram na mesma toada, e hoje um Usain Bolt, por exemplo, é figura presente, de alguma forma, na vida de todos nós.
As cifras e os interesses envolvidos, obviamente, subiram junto. Em princípio, um fanático por esportes como eu achou ótimo que atletas ficassem milionários e se tornassem referência para milhões de jovens no mundo todo. Só que, em paralelo com isto, o conceito de “competitividade” saiu de controle, transformando-se no “tudo por dinheiro”, imortalizado pelo nosso grande Sílvio Santos.
A nobreza da competição, exaltada por Coubertin no lema dos Jogos Olímpicos, foi substituída por um jogo em que o importante é ganhar, não interessa como. A justificativa são os milhões e milhões de dólares envolvidos. Como no mito de Fausto, atletas, treinadores e dirigentes vendem suas almas ao diabo em troca da fortuna. No caso específico dos atletas, além da alma, o próprio corpo entra na transação, uma vez que todos conhecem as consequências nefastas que estas substâncias causam no organismo no médio e longo prazo.
Resumindo, mais uma vez estamos assistindo ao triste espetáculo da degradação do ser humano quando não consegue ter uma visão maior de respeito aos outros e a si mesmo, que é a base da grandeza do esporte. Treinar, suar, competir, vencer, perder, tudo isto é bom e saudável, trazendo benefícios físicos e psicológicos para a vida toda; jogar sujo pode te levar à glória enganosa e momentânea, mas um dia a verdade vem à tona. E, por favor, poupem o esporte desta coisa suja. Ele é muito maior que isto.
Até a próxima.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

DECISOES POR PÊNALTIS NÃO SÃO JUSTAS. E EU TENHO UMA PROPOSTA PARA ACABAR COM ISTO

Um dos grandes problemas dos torneios de futebol nos últimos anos tem sido o número exagerado de decisões por pênaltis. Desde sempre, os torneios tipo mata-mata (ou seja, aqueles em que o jogo tem que ter um vencedor) sempre previam a existência da prorrogação no caso de empate no tempo normal, e a premissa era que, em trinta minutos extras de jogo, alguém faria um gol e decidiria a parada.
Este sistema funcionou muito bem durante um bom período de tempo, mas o problema é que as técnicas e táticas do futebol foram cada vez mais privilegiando a defesa, de forma que, de uns tempos para cá, as prorrogações raramente têm gols, e o jogo acaba indo para a decisão por pênaltis.
Só para contextualizar historicamente o que estamos falando, em termos de Copa do Mundo, a primeira decisão por pênaltis ocorreu na semifinal de 1982, quando Alemanha e França empataram no jogo e na prorrogação. De lá para cá temos tido decisões por pênaltis em todas as fases de todos os torneios mata-mata do mundo (Eurocopa, Copa América, Libertadores, Copa do Mundo e todos os outros).
O problema é que a decisão por pênaltis é uma coisa totalmente divorciada do jogo de futebol em si. E pode ser muito injusta. Se tomarmos as duas últimas finais de Copa América, por exemplo, o Chile bateu a Argentina duas vezes nos pênaltis, após 240 minutos sem um golzinho sequer, de parte a parte. Será que não teria um jeito de obrigar estes caras a jogar para frente e fazer gols?
Minha sugestão é simples; aplicar, para a prorrogação, regras diferentes das utilizadas para o jogo em si. Algo parecido com o que já se fez no vôlei e no tênis; o tie-break.
Seriam, basicamente, duas mudanças simples e, repito, que valeriam apenas para a prorrogação;
a) Na prorrogação não existiria mais a figura do impedimento. A única coisa que é proibida é o atacante ficar parado dentro da área, esperando a bola e atrapalhando a ação do goleiro.
b) Toda e qualquer falta que seja feita propositalmente, para parar um lance de ataque, será cobrada da meia-lua da área, sem barreira (chance de gol quase tão boa quanto um pênalti).
A ideia é facilitar a vida dos jogadores e times habilidosos e ofensivos. Sem impedimento, a área para troca de passes aumenta; e a segunda regra obrigaria os defensores a pensar duas vezes antes de fazer uma falta para “matar a jogada longe do gol”. Outro detalhe importante é que os bandeirinhas, sem a necessidade de observar os impedimentos, poderiam auxiliar mais ainda os juízes na marcação das faltas.
Enfim, sem mudar muito as regras, acho que teríamos prorrogações emocionantes, proporcionando muitas oportunidades de gol. E o jogo seria decidido de uma forma mais justa, privilegiando quem ataca mais e melhor. Podia dar certo...

quinta-feira, 23 de junho de 2016

INVADE, OCUPA, QUEBRA, XINGA – SERÁ QUE DEMOCRACIA TEM QUE TER BAGUNÇA?

No início dos anos 80 a ditadura militar brasileira apresentava claros sinais de que não iria durar muito. A “abertura democrática”, promovida pelo então ditador João Batista Figueiredo, nada mais era do que um sinal de que o modelo econômico dos militares estava esgotado e eles estavam ansiosos para passar a bola adiante – o que acabou sendo feito.
Neste momento, em que a palavra “democracia” aparecia como um sonho e a possível solução de todos os males do Brasil reuniu-se no time do Corinthians uma geração de jogadores com inegável talento para jogar bola, mas que acabou sobressaindo-se por outro motivo; liderados por Sócrates, um jogador pouco convencional, que juntava à sua técnica refinada dentro de campo uma cultura de alto nível e grande capacidade de liderança, com o apoio de outros craques como o inteligente Vladimir, o rebelde Casagrande e o carismático Biro-biro, criaram um movimento que ficou conhecido como a “democracia corintiana”.
Basicamente, o negócio deles era jogar bola e ganhar muitos campeonatos – coisa que fizeram com muita competência, diga-se. Se fossem jogadores medíocres ninguém lhes daria o mínimo crédito. Mas suas atitudes iam muito além do gramado. E o causo que vamos contar agora diz muito mais respeito a estas atitudes do que ao jogo de bola.
Jogava neste timaço um ponta-direita chamado Ataliba, que, mesmo sem ter a qualidade técnica dos craques do time, resolvia o jogo de vez em quando. Certa vez, ele foi substituído, não gostou (duvido que algum jogador do mundo goste de ser substituído) e saiu soltando palavrões contra o técnico da ocasião, que eu não lembro quem era. A câmera da TV pegou a imagem (é claro que não vivíamos a época de hoje, em que qualquer palavrãozinho que o jogador solte é filmado por todos os ângulos possíveis), e o fato alcançou alguma repercussão na imprensa (também não existiam as famigeradas redes sociais de hoje).
Pressionado, o treinador exigiu da diretoria uma punição para o atleta. Só que Sócrates e seus companheiros vieram em defesa de Ataliba. Até ai tudo normal, é o tipo do episódio que nunca deveria sair dos limites do campo; o cara pede desculpas, o treinador aceita e vida que segue. Mas o argumento que os outros jogadores usaram foi o da “democracia”. Na visão deles, a “democracia” dava ao jogador o direito de xingar o técnico na frente de todo mundo. E é por isto que fiquei com esta história na cabeça.
Este talvez seja um dos mais graves problemas do Brasil; a confusão de conceitos entre “democracia” e “bagunça”. Nenhuma democracia do mundo dá a alguém o direito de destratar o seu gerente, principalmente se estiverem em público; também não é democrático invadir escolas, parar avenidas, manter greves abusivas, xingar autoridades (por mais que eu considere que a administração petista foi um desastre para o Brasil, sempre achei que aquele coral de “Ei, Dilma, vai tomar no (*)” é coisa de selvagens imbecis). No Brasil, infelizmente, este tipo de barbaridade é enquadrado dentro dos limites do “direito sagrado de livre expressão”. E se a polícia bater em alguém, a culpa é da polícia.
O resultado prático de tudo isto é que a melhor característica da democracia, que é a existência do debate livre e saudável entre os divergentes, que pode nos levar a uma negociação boa para todos, fica totalmente prejudicada; e não é por outra coisa que muitos desinformados entendem que a volta da ditadura militar seria uma solução. Pessoal, não precisamos de ditadura (ninguém precisa); precisamos de disciplina e ordem. E isto pode (deve) ocorrer em qualquer estado democrático.
Resumindo, o que o Brasil precisa não é de mudança de regras, mas sim cumprir as mínimas regras de convivência, educação e responsabilidade, que são os pilares de uma estrutura democrática. Invadir, paralisar, quebrar, xingar, nada disto resolve o problema. E a mudança cabe a cada um de nós.
Até a próxima.

domingo, 15 de maio de 2016

Uma pequena aula de história para frear a histeria “politicamente correta”

“Não é possível corrigir o passado, mas, a cada dia, podemos começar a construir um novo futuro” - Chico Xavier.
Diz uma historinha dos anos 1970 que, certa vez, perguntaram a Mao Tse Tung, o grande líder chinês, o que ele achava da influência da Revolução Francesa na História da Humanidade. Mao teria respondido algo do tipo; “ainda é muito cedo para se avaliar as consequências, afinal se passaram menos de dois séculos”. Verdadeiro ou não, o “causo” pode servir de base para algumas conclusões sobre a onda histérica que se levantou a partir do momento em que o Presidente interino Michel Temer anunciou o seu ministério composto apenas por homens brancos – um retrocesso, ou até um crime, na visão de alguns.
Meninos, o tempo é o senhor da razão. Mudanças comportamentais ou de paradigmas acontecem aos poucos, e seus efeitos só serão efetivamente implementadas ao longo de décadas, ou até séculos, conforme observou Mao Tse Tung com muita propriedade (se a historinha for verdadeira, of course). E corrigir o passado é impossível, conforme disse o nosso velho e bom Chico Xavier.
A evolução da participação das mulheres na sociedade começou a acontecer com alguma intensidade a partir da metade do século XX. Só para vocês terem uma ideia, citando dois “causos” particulares, quando entrei para a Escola de Engenharia da UFRGS, em 1971, de um contingente de 400 alunos, apenas 20 (isto mesmo, 5%) eram mulheres. Pior ainda; quando passei no concurso e entrei para a Petrobras, em janeiro/1976, o cargo de “Engenheiro de Equipamentos” era vedado para mulheres, sob a suposição (totalmente estúpida, diga-se), de que elas não poderiam trabalhar em plataformas por correrem o risco de sofrer violência sexual. E como vivíamos uma ditadura militar (que alguns idiotas ainda insistem que “é a solução” para o Brasil), não tinha conversa; era proibido e fim de papo, não tinha a possibilidade de recorrer à justiça (que só existe em estados democráticos). Esta proibição maluca só foi revogada no início dos anos 80, se a memória não me falha.
Numa situação paralela, nos Estados Unidos, na mesma época, o racismo ainda era oficial em alguns estados, e foi só após uma luta dura, que custou a vida de Martin Luther King, John Kennedy e alguns milhares de anônimos, é que as crianças e adolescentes negros conseguiram o direito de estudar em boas escolas e serem tratados como gente.
Os resultados das mudanças começaram a aparecer com intensidade algumas décadas depois, o que é natural. Hoje temos um presidente negro nos Estados Unidos, e tivemos, recentemente, na Petrobras, Graça Foster como a primeira mulher a chegar à presidência da empresa. Nenhum deles precisou usar sistema de cotas; chegaram lá pelas suas qualidades, e porque tiveram o direito de competir em igualdade de condições desde os tempos do colégio.
Assim, entendo que, hoje, ainda temos um número relativamente pequeno de mulheres e/ou negros e/ou outras minorias em postos mais importantes, que ainda é fruto deste (mau) legado histórico. Mas a minha geração vai morrer ou sair do cenário em breve, e a tendência é que as coisas se equiparem. Assim caminha a humanidade, como diz Lulu Santos, o poeta com nome de cachorrinho de madame.
Minha implicância com o politicamente correto vem desta distorção; eles querem corrigir o passado, e acabam atrapalhando o presente, exigindo cotas para isto e para aquilo, sem levar em conta que isto acaba gerando um preconceito ao contrário, que impede em muitos casos, que os mais competentes ocupem os cargos. E o efeito colateral é que isto acaba, sem querer, proporcionando argumentos para radicais como Donald Trump e Bolsonaro, por exemplo (ver meu artigo anterior, "De Bolsonaro a Trump, a volta triunfal do politicamente incorreto).
Resumindo, minha visão é que todos somos seres humanos, e temos as mesmas competências e defeitos. O problema é que, por força de distorções antigas (já superadas), o número de homens que estão hoje na faixa dos 60 anos que tiveram condições plenas de desenvolver suas competências é bem mais significativo que o de mulheres. E isto se reflete (ainda) nas empresas, governos, mercado de trabalho, etc...
Vejo a prova disto nas turmas de MBA onde dou aulas; entre os professores mais “experientes” (leia-se; velhos), os homens são a imensa maioria, mas no pessoal que está na faixa dos quarenta anos, o número de professoras é cada vez mais significativo. E no corpo de alunos (que serão os futuros professores, of course), a coisa está tecnicamente empatada, já tive turmas com mais de 65% de alunas. Ou seja; a integração está se fazendo a cada dia, tudo junto e misturado, como tem que ser. E os competentes sobreviverão, sejam homens ou mulheres.
Por favor, não atropelem o processo, nem tentem corrigir o nosso vergonhoso passado. Só se pode corrigir o futuro. E ele é promissor para todos.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A ascensão do cuspe-dô, a nova arte marcial brasileira

Nelson Rodrigues, provavelmente o nosso maior frasista e um cara que entendeu a alma brasileira como poucos, dizia; “O brasileiro é o Narciso às avessas; se puder, cospe na própria imagem”. Nos anos 50, quando eu nasci e Nelson escreveu esta frase, cuspir em alguém era considerado um ato de suprema ofensa, seguramente uma agressão pior até que um soco ou algo assim. Afinal, para dar um soco é preciso tocar no agredido; o cuspe ficava reservado para seres tão abjetos que nos repugnava a ideia de ter qualquer contato físico com eles. E a imagem de alguém cuspindo em si mesmo era forte o suficiente para determinar o tamanho da nossa falta de autoestima, o complexo de vira-latas, na definição do próprio Nelson.
Nem nos seus piores pesadelos o nosso grande escritor poderia imaginar o quanto sua frase seria profética. Nestes tempos trevosos que vivemos, cuspir nos outros virou moda e, pior ainda, passou a ser considerado por muitos como uma atitude justa, quase exemplar, dependendo de quem seja o alvo da cusparada. Conforme sugere o título deste post, talvez estejamos assistindo à criação de uma nova arte marcial. O sufixo “dô”, presente no nome de diversas lutas orientais (judô, aiki-dô, tae-kwon-do), significa “caminho”. No caso deles, o caminho proposto é o do respeito aos outros e da disciplina; já o nosso cuspe-dô louva a cafajestagem e a covardia.
Minha triste conclusão é que, finalmente, o brasileiro perdeu a paciência com este tal de “brasileiro”, o repulsivo ser responsável por todas as nossas mazelas e que sempre é o outro, nunca a gente. No fundo, cada um cospe em si mesmo; na nossa falta de autoestima, na nossa incapacidade de criar um verdadeiro sentimento de nação, mesmo tendo um país com tantas possibilidades.
Espero que, deste fundo de poço moral aonde chegamos, surja uma oportunidade, e finalmente o brasileiro se reconcilie consigo mesmo, aprenda a dialogar e construir. Infelizmente, no momento, o que vemos são atitudes cada vez mais raivosas, agressivas e irracionais. E cuspir, acima de tudo, é um ato “nojento!”, conforme diria, com muita propriedade, o saudoso Tião Macalé, numa definição perfeitamente aplicável ao atual momento político e social que vivemos.
Enfim, quem viver, verá.

terça-feira, 19 de abril de 2016

O circo do congresso repete o circo nosso de cada dia

De todas as “qualidades” apresentadas por nossos ilustres parlamentares no triste espetáculo da votação de domingo (grosseria, burrice, analfabetismo funcional e outras) a que mais me chamou atenção foi a falta de disciplina. Afinal, a solicitação feita foi que cada congressista usasse dez segundos, ou seja; chega ao microfone, fala o voto (sim ou não), e passa a vez. Simples assim. Ninguém cumpriu.
Sempre que se fala em fatores críticos de sucesso para um projeto, que é a área onde trabalho, a disciplina é citada. E, na minha visão, a origem de todos os problemas que temos no Brasil passa por esta simples palavrinha; indisciplina.
O problema da indisciplina do brasileiro é muito maior do que se imagina. O economista Douglass North, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1993, afirma que o mais importante para que um país se desenvolva são as crenças de sua população. Concordo 100% com ele. E uma das crenças mais fortes do imaginário brasileiro é a sua aversão a tudo o que represente autoridade e disciplina.
Posso citar dezenas de exemplos, desde o caos no trânsito até a dificuldade que temos de formar uma fila em qualquer lugar público, mas vou citar um que me incomoda muito; o problema do celular nos aviões. É impressionante como NINGUÉM obedece imediatamente à ordem de desligar o celular. Obedecer à regra é considerado sinal de fraqueza; segundo a frase atribuída a Roberto da Matta, o brasileiro acha que quem segue as regras é babaca. O bonito, charmoso, é continuar falando até levar uma chamada pessoal da aeromoça; aí o sujeito (ou sujeita) desliga, com ar de enfado. Na votação de domingo, várias vezes a campainha teve que ser acionada. E os caras não paravam de falar. O congresso nos representa. Sad but true.
Citando mais um exemplo, Lee Kwan Yew, o lendário líder que comandou a transformação de Singapura, uma minúscula cidade-estado de cinco milhões de habitantes em um dos países mais importantes do mundo, disse que “a democracia não leva necessariamente ao crescimento. O que um País precisa é desenvolver a disciplina e a confiança”.
Afinal, disciplina é coisa de nazista?
Infelizmente, no Brasil, ainda existe uma confusão de conceitos entre disciplina e repressão; resumindo, vemos a disciplina como um entrave à criatividade, por exemplo. Para acabar com este mito, seguem duas frases de indivíduos reconhecidamente criativos;
“Disciplina é liberdade” (Renato Russo, compositor).
“Em relação à propaganda, sou obviamente contra a censura e totalmente a favor de disciplina e legislações” (Washington Olivetto, publicitário).
Na verdade, a disciplina pode até começar pela repressão (em Singapura foi assim), mas se estabelece mesmo no momento em que todas as pessoas entendem que esta é a melhor forma para se viver. A foto que ilustra este artigo mostra um grupo de japoneses esperando para levar para casa sua cota de água potável após o tsunami de março/2011. Veja que todos estão obedecendo à fila, mesmo em um cenário totalmente caótico. Compare esta imagem com a do nosso congresso. Depois, ao invés de dizer que estes políticos não nos representam, pense nas suas atitudes no dia a dia do trânsito, do aeroporto, da fila do supermercado...
Resumindo; a melhora que todos queremos passa, mais que qualquer coisa, por uma renovação de crenças e valores. O já citado Douglass North diz que “um país que valoriza a pirataria vai produzir os melhores piratas”. Uma cultura que valoriza o individualismo e a safadeza vai eleger políticos egoístas e safados. Simples assim.
Existe mais a dizer sobre o assunto, mais este artigo já ficou longo demais. Fica para um próximo.


sábado, 16 de abril de 2016

OK, vamos tirar a Dilma. E depois disto, temos algum projeto?

Se todas as previsões se confirmarem, o Brasil inicia neste domingo um processo (que espero que seja rápido) para tirar Dilma e seu mentor espiritual Lula do poder. A pergunta que fica é; o que esperamos que aconteça a partir daí? Não estou me referindo aos problemas de seus sucessores na linha direta da constitucionalidade (Temer, Cunha, Calheiros), todos envolvidos também em irregularidades, mas sim ao que se espera do Brasil pós-PT. A sábia Mafalda, personagem do genial cartunista argentino Quino, dizia; “não é suficiente destruir as estruturas, precisamos saber o que vamos fazer com os cacos”.
Não custa lembrar que já vimos filme parecido em 1992, quando o país inteiro comemorou o impeachment do então presidente Fernando Collor. Resultados práticos; nenhum. A corrupção não acabou e o próprio Collor retornou à política triunfalmente, sendo hoje um dos mais representativos nomes do senado brasileiro.
O que faltou? Faltou, como sempre, um projeto. Em 2010 a então desconhecida candidata Dilma Rousseff falou que “um país sem projetos é um país sem futuro”. Para quem só era conhecida como “a mãe do PAC” (alguém lembra do PAC?), uma boa frase. Talvez uma das poucas coisas coerentes que ela disse em toda a sua vida pública.
Infelizmente, a falta de educação e o imediatismo são características muito fortes da sociedade brasileira como um todo, não sendo exclusividade nem de coxinhas nem de petralhas. A foto abaixo, que eu mesmo tirei, é de uma pichação colocada em um muro do bairro carioca Jardim Botânico, nas manifestações de junho/2013. Prá mim é o resumo perfeito das crenças brasileiras. E uma boa explicação sobre como um país com tantas possibilidades de sucesso continua na lama.

Como não me agrada a ideia que o impeachment de Dilma também não tenha grandes resultados práticos no longo prazo, entendo que é hora de pensar em algumas alternativas para que isto não aconteça. Vale lembrar que, diferentemente de 1992, temos hoje uma sociedade bem mais forte, que foi capaz de colocar na cadeia empresários e políticos de alto escalão; este é um ponto importante, e um avanço que não pode admitir recuos.
Vou listar abaixo alguns dos pontos que me parecem importantes para debater, e prometo voltar a cada um deles em futuros posts, até porque este já ficou muito grande;
a) Reforma ministerial (nenhum país do mundo precisa de 40 ministérios);
b) Redução dos cargos de confiança e do custo da máquina administrativa (o número de assessores que os nossos políticos têm, tanto na esfera federal como estadual e até municipal é, seguramente, absurdo. Esta reforma é fácil de fazer e vai economizar muito);
c) Adoção de voto distrital e facultativo (acho que o Brasil é o único país do mundo em que votar é obrigação);
d) Obrigação, por parte de todo e qualquer ocupante de cargos políticos, de disponibilizar na internet sua declaração de bens (permite à sociedade controlar possíveis sintomas de enriquecimento anormal);
e) Nomeação dos presidentes e diretores de empresas estatais por critérios técnicos, com verificação anual de cumprimento de metas (é assim em todos os lugares civilizados do mundo).
Acho que estes cinco itens são suficientes para começar, mas tem muito mais. O que não pode é tirar o PT e deixar tudo como está, porque daqui há algum tempo vamos sair às ruas para tirar o PSDB, ou o PMDB, ou, pior de tudo, reeleger o Lula.
O Brasil precisa de um projeto de país. Se querem um grito de guerra, tenho um; Gerentes de projeto, unidos, jamais serão vencidos!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

De Bolsonaro a Trump, a volta triunfal do “politicamente incorreto”

Cena carioca; domingo, por volta de meio-dia, estou na caminhada habitual pelo calçadão da praia da Barra, quando uma movimentação incomum me chama a atenção. Um sujeito de camiseta branca, que também faz seu exercício, é interrompido a toda hora para abraços, apertos de mão e diversas outras tietagens. Será um artista global? Um astro do esporte? Quando ele chega mais perto e passa praticamente ao meu lado, reconheço a figura do Deputado Jair Bolsonaro. Como estávamos caminhando na mesma direção, pude acompanhar o fenômeno durante mais alguns minutos; as pessoas se viram para olhar, um sujeito perto de mim comenta com outros dois; “Este é o Bolsonaro, aquele que disse que só não estuprava a Dilma porque não valia a pena. Eu tenho que dar um abraço neste cara!”. Na verdade, a frase não foi dirigida à Dilma, mas, conforme já disse alguém bem melhor que eu, quando a versão é melhor que os fatos, dane-se os fatos.
Meninos, eu vi. Ninguém me contou. E não me venham dizer que é coisa de emergente da Barra, porque o entusiasmo dos funcionários dos quiosques era o mesmo. Fiquei pensando; qual outro político de relevância no Brasil passaria por um teste destes hoje, andando pelo calçadão de uma praia cheia de gente? Lula? Dilma? Aécio? Sinceramente, tenho dúvidas.
Chegando em casa, abro o jornal e vejo que, embora esteja caindo nas pesquisas, Donald Trump ainda é um dos favoritos para indicação dos republicanos à Presidência dos Estados Unidos. E não posso deixar de ligar uma coisa à outra.
Trump e Bolsonaro têm em comum a ojeriza ao “politicamente correto”; são terrivelmente grosseiros, mas sinceros em seus posicionamentos. E o sucesso dos dois é uma demonstração clara de que existe muita gente de saco cheio disto.
Pausa para reflexão; será que a onda do “politicamente correto” não gerou alguns posicionamentos tão radicais quanto os anteriores? E que, conforme nos dizia o velho e bom Isaac Newton, a toda ação corresponde uma reação igual e contrária? Só para citar um exemplo, se nós somos contra qualquer tipo de preconceito, então não poderíamos aceitar uma fala como a do ex-presidente Lula quando ele disse que a culpa da desigualdade econômica era do pessoal “branco e de olhos claros”. Isto é preconceito; afinal, eu sou branco, neto de alemães, e não me considero culpado por porcaria nenhuma. Só que ninguém no mundo de hoje dá a um branco o direito de se sentir ofendido. Satanizar os heterossexuais pode; criticar homossexuais dá cadeia. Enfim, o racismo e o preconceito não mudaram; apenas mudou o lado que bate e o que apanha. E a impressão que tenho é que a ficha caiu e hoje as pessoas comuns começaram a dar a resposta; estamos de saco cheio disto. Esta confusão toda acaba aumentando a popularidade de gente radical como Bolsonaro ou Trump. Que, a meu ver, também não representam uma boa solução.
O grande Nelson Mandela provou, recentemente, que o único jeito de evoluir é através do perdão e do diálogo. Depois de sofrer na pele uma vida inteira de injustiças, não aproveitou sua subida ao poder para dar o troco nos brancos; ao contrário, chamou todo mundo para conversar, e mudou o destino de uma nação. Antes dele, Martin Luther King teve o sonho da igualdade, não da vingança. É preciso interpretar corretamente os sinais e entender que é preciso ceder dos dois lados. Bolsonaro e Trump são radicais, mas têm sua dose de razão, e podem contribuir para o debate. Só que os “politicamente corretos” também têm que aprender a negociar. Se isto não acontecer, podemos cair em um confronto puro e simples e acabar tendo um retrocesso perigosíssimo. Que, tenho certeza, não será bom para ninguém.