quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Teorias conspiratórias no futebol - até quando?

Mais uma da longa série “porque que a gente é assim...”;
Mesmo sem nenhuma base científica para afirmar isto, penso que o Brasil é o país com maior número de teorias conspiratórias por metro quadrado do mundo. E o futebol, nosso vício maior, é o campo onde esta praga mais acontece. Todo mundo garante que os campeonatos são decididos pela Globo, pela Nyke, pelo Galvão Bueno e pela bancada da bola no congresso, dependendo do vilão do momento. Jogadores e árbitros são apenas marionetes, que seguem um roteiro perfeitamente definido. E o pior é que ninguém aceita argumentos lógicos que provam o contrário.
Ontem, mais uma vez, os fatos contrariaram estas teorias ridículas. Corinthians e Flamengo, que todo mundo jura que são os escolhidos de Deus (ou da Globo, o que, no Brasil, é a mesma coisa), foram eliminados da Copa do Brasil logo nas oitavas. Tudo bem que seus adversários, Vasco e Santos, também são grandes. Mas o que dizer do Galo Mineiro, campeão do ano passado, que foi eliminado pelo Figueirense (que, com todo o respeito, em termos de respercussão nacional é apenas um Figueirense), em um jogo com uma expulsão prá lá de polêmica que acabou influenciando no resultado final?
Resumindo, vou falar o que sempre falo; o jogo se decide no campo. É claro que os juízes erram, e até acredito que, em caso de dúvida, podem, ocasionalmente, optar por favorecer o time mais poderoso, mas nada que se compare a “conspirações” para que A ou B seja o campeão.
Só para alinhar mais um argumento; com todo o escândalo que está sendo revelado na FIFA, até agora ninguém falou em “entrega” de jogos (conforme muita gente jura que aconteceu na final da Copa de 1998, por exemplo), ou compra de árbitros para decidir campeonatos. E o motivo é simples; isto pode até acontecer, mas em casos muito raros e isolados.
Mas eu sei que ninguém vai acreditar nisto, portanto, cada um que fique com suas verdades. Mesmo quando os fatos provam o contrário...

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O problema das drogas; será que não está faltando bom senso?

Mais uma da série; “ninguém me perguntou nada, mas eu acho que...”;
Nunca consegui ver o menor sentido neste debate sobre descriminalizar o uso de drogas, mantendo a proibição da produção e venda. Afinal, esta proposta não resiste â lógica mais elementar; se alguém esta portando uma substância cuja venda é proibida, é porque comprou de forma ilegal e, portanto é, no mínimo, sócio do criminoso. Ninguém pode alegar inocência dizendo que comprou um produto contrabandeado ou que exigiu propina “para uso pessoal”. Ou é proibido ou não é. Simples assim.
Minha proposta de solução para o problema é mais simples ainda; é proibido proibir, libera tudo e estamos conversados. E diga-se que quem está falando aqui é um dos caras mais "nerds" de toda a geração de Woodstock; só para ter uma ideia, eu nunca fumei um cigarro, legalizado ou não (e, diga-se, isto nunca me fez a menor falta).
A justificativa deste meu ponto de vista é mais simples ainda; a melhor maneira de combater um mau hábito é o esclarecimento, que só acontece na medida em que as coisas são tratadas de forma transparente. O fracasso da “lei seca”, nos Estados Unidos do início do século passado, e os recentes sucessos obtidos pelas leis de restrição do consumo de álcool para motoristas e ao tabagismo, de um modo geral, são exemplos altamente positivos. Veja bem, ninguém pensou em colocar na ilegalidade os fabricantes e vendedores de bebidas e cigarros, todo este setor funciona muito bem, gerando empregos e impostos, mas a sociedade consegue, cada vez mais, coibir os efeitos maléficos do uso destas substâncias. Você fuma e bebe o que quiser, só não pode prejudicar os outros. Não vejo porque isto não iria acontecer com as outras drogas. No vizinho Uruguai, a maconha foi liberada e, no depoimento do próprio presidente Mujica, “o mundo não acabou”.
De qualquer forma, se é verdade que a “sociedade não está preparada para isto”, conforme dizem todos os que insistem em manter o status atual, entendo que a repressão, então, tem que ser total. E aí entendo que o melhor é adotar logo a lei de Cingapura, onde a pena (de morte) é a mesma para quem é descoberto com dez gramas de droga ou uma tonelada. Lá, pelo menos, o sujeito tem amplo direito de defesa, e o próprio estado se encarrega da execução, quando é o caso, enquanto aqui a pena de morte é decretada e executada pelos traficantes, num processo muito mais injusto e ruinoso para todo mundo, além de aumentar exponencialmente o número de inocentes mortos. Ressalto mais uma vez que não concordo com nada disto, mas entendo que, se a escolha da sociedade é pela repressão (que não é a minha opção, repito), que, pelo menos, seja feita de forma eficiente. Somando e subtraindo, o número de mortos lá é muito menor do que aqui, e o sentimento de segurança nas ruas, incomparavelmente maior.
Resumindo, conforme diria minha sábia avó lá de Santa Maria, ou é calça de veludo ou bunda de fora. Se a opção é proibir, que o estado o faça com mão pesada e coloque logo todo mundo no mesmo saco. O bom senso me levar a pensar que liberar tudo seria a opção mais inteligente, até mesmo para diminuir e controlar o consumo. Mas ficar no meio do caminho, seguramente, é a pior opção.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

MAIS UMA VÍTIMA DE "PRECONCEITO". SERÁ MESMO?

Mais uma da série “pequenas coisas que me irritam muito”:
O técnico Cristóvão Borges, que vem fazendo um trabalho altamente questionável no Flamengo, veio a público reclamar que algumas das críticas que tem sofrido teriam “conotação racista”. Sou contra qualquer tipo de preconceito, seja ele racial, sexual, religioso, ou o que for, mas não aguento mais esta postura de “coitadismo” que alguns representantes de supostas minorias prejudicadas adotam em situações de pressão.
No esporte, principalmente, temos um campo em que o preconceito funciona muito pouco. Lembro que Felipão, quando questionado sobre racismo no futebol, disse uma frase que eu nunca esqueci; “olha, dentro de campo não tem nada disto. A única coisa que interessa é se o cara joga bola ou não joga. Se ele é bom, ninguém vai perguntar se ele é branco, preto, amarelo ou verde; todos querem o cara no seu time”. Concordo em gênero, número e grau.
Para não ir muito longe, no meu Grêmio, cuja torcida é sempre citada como racista, estão todos encantados com o trabalho do negro Roger (que substituiu o branco Felipão), principalmente depois dos 5x0 no último grenal (desculpem, mas eu não podia deixar de falar nisto). Enquanto isto, naquele outro time de Porto Alegre, o branco Diego Aguirre foi jogado fora como se fosse um papel higiênico usado, uma atitude grosseira e mesquinha, seja qual for a cor da pele dos envolvidos.
Enfim, futebol ainda é um lugar onde a meritocracia funciona bem (pelo menos dentro do campo). O bom e educado Cristóvão não precisava disto. Ele já está no futebol há tempo mais que suficiente para saber que a regra é esta; ganhou, vai ficando, perdeu, cai fora. Não interessa se é branco, preto, cinza, verde...

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O NOCAUTE VOCÊ VIU. E O PROJETO POR TRÁS DO NOCAUTE?

O assunto mais importante para os fãs de esporte durante as últimas semanas foi a preparação para a luta feminina de MMA mais esperada da história, entre a americana Ronda Rousey e a brasileira Bethe Correia. E o resultado foi, até certo ponto, decepcionante; meses e meses de provocações, xingamentos e guerra de nervos, resultaram em míseros 34 segundos de combate – tempo necessário para a americana nocautear a brasileira com dois socos bem dados.
A vitória de Ronda não chegou a ser surpreendente, mas a forma pela qual foi obtida sim. Porque a aposta de todos os comentaristas especializados era que a brasileira, fisicamente mais forte, poderia vencer na troca de socos, e que Ronda, especialista em judô, tentaria levar a luta para o chão. Na hora, Ronda fez exatamente o contrário do que era esperado, e se deu muito bem. Nas entrevistas pós-massacre, a lourinha com cara de anjo, mas boa de briga, disse que foi tudo meticulosamente planejado e executado justamente com o objetivo de pegar Bethe de surpresa – e foi aí que eu comecei a me interessar por analisar o assunto sob o ponto de vista de gerenciamento de projetos.
Realmente, uma luta é um projeto interessante, uma vez que o atleta passa meses treinando (fase de planejamento) e a fase de execução pode durar apenas alguns segundos. Se me permitem a piadinha, no caso, a executada foi a pobre da Bethe, que ainda não deve ter achado o rumo de casa. Agora, se pensarmos em termos de projeto, o da americana foi bem planejado e muito bem executado. Já a brasileira me pareceu muito mais preocupada em fazer guerra de nervos e tentar desconcentrar a adversária (o que, num esporte individual e violento como este, faz parte do jogo), mas não conseguiu, na hora da verdade, apresentar qualquer alternativa tática para a proposta da adversária. A impressão que tive (aviso, desde já, que não sou especialista no assunto), foi que a única estratégia de Bethe era “acertar um bom soco na carinha dela”, conforme disse em várias entrevistas. Acredito que isto não é suficiente para disputar um título mundial.
Este “causo” todo acabou por me trazer à memória o folclórico Adilson “Maguila” Rodrigues, boxeador que chegou a ter seus momentos de fama há uns trinta anos. Ao contrário da grosseira e malcriada Bethe, o simplório Maguila era uma figura muito tranquila e, sempre que era provocado por algum rival nas entrevistas antes das lutas, usava uma frase que era quase um mantra; “este cara vai “tumá” é “muincha” porrada”, dizia ele, com aquele simpático sotaque carregado dos sergipanos, que eu aprendi quando morei em Aracaju e me traz boas lembranças até hoje. E o mais legal é que ele dizia isto sem se exaltar, quase com preguiça...
Maguila teve uma bela carreira, chegou a ser campeão sul-americano e um dos dez mais bem ranqueados do mundo, mas, na hora em que enfrentou adversários mais qualificados, que exigiriam uma preparação e alternativas táticas mais criativas do que “dar muincha porrada”, se deu mal. O caso de Bethe é semelhante (ela estava invicta, lembrem). Enfim, dois exemplos que nos servem de lições aprendidas, que devem ser aplicadas ao mundo do gerenciamento de projetos; você pode até realizar alguns projetinhos com sucesso só na base da intuição e do bom senso, mas, se quiser realmente ser competitivo e dar um salto de qualidade, é preciso se capacitar e buscar apoio de quem conhece mais o assunto.
O maior lutador da história, Muhammad Ali, na sua luta mais brilhante, contra George Foreman, em 1974, fez melhor ainda; mudou o plano do projeto no meio da luta. Isto, obviamente, é só para os gênios; mas este “causo” eu vou contar outro dia...

sábado, 1 de agosto de 2015

A VIDA NÃO É FÁCIL PARA OS GERENTES DE PROJETOS NO BRASIL. MAS ISTO PODE MUDAR...

Começo esta reflexão contando um “causo” que ouvi há mais de vinte anos, em uma mesa de bar, depois de muitos chopes e que, portanto, pode ser pura fantasia. Quem contou foi um colega, já então aposentado da Petrobras, e que tinha sido assistente de um diretor da empresa lá pelo final dos anos 80, na época do governo Sarney. Pois o tal diretor, ao final de um dia particularmente estressante, teria dito algo do tipo; “Eu sou diretor da maior empresa da América Latina, mas não tenho poder nem para sugerir mudanças no preço do meu produto, não posso dar bônus para um bom funcionário, nem demitir ninguém, nem mexer na carteira de projetos... afinal, o que eu estou fazendo aqui?”. E pediu as contas no dia seguinte.
Verdadeira ou não, esta história mostra uma realidade tipicamente brasileira; somos a terra do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Esta cultura, quando aplicada ao mundo de gerenciamento de projetos, causa danos irreparáveis.
Sempre procuro transmitir aos meus alunos que, muito mais do que aprender técnicas e ferramentas, para que toda esta formação apresente resultados e ganhe credibilidade, é necessário trabalhar para que se crie no Brasil uma cultura de gerenciamento de projetos. E esta cultura é, em sua essência, altamente democrática, ou seja; todos devem ser ouvidos na fase de planejamento, para que tenhamos metas factíveis e equipe comprometida com o resultado. Funciona assim no mundo todo.
A dicotomia entre estas boas práticas aprendidas nos cursos e a dura realidade do dia a dia talvez seja a melhor explicação para a situação anômala que vivemos no Brasil de hoje; temos muitos cursos de MBA e pós-graduação nesta área, centenas de profissionais especializados entram no mercado todo ano, o número de certificados PMP cresceu exponencialmente, mas, ao contrário do que era de se esperar, toda esta qualificação de mão de obra não se refletiu em resultados, e nossos projetos vão de mal a pior – atrasos colossais, prazos estourados, mudanças totalmente sem controle...
Porque isto acontece? Na minha visão, o problema é que o nosso sistema de tomada de decisões é o mesmo desde as capitanias hereditárias; o grande senhor da terra dá as ordens e os vassalos se viram para tentar cumprir o que, na maioria das vezes, todos sabem que é impossível. Existe uma clara divisão entre a casta superior, que define os objetivos do projeto sem consultar ninguém, e os subordinados, incluindo aí o pobre do gerente do projeto, que ou aceita trabalhar assim ou vai arrumar outro jeito de ganhar a vida. E quando tudo dá errado, porque foi mal planejado (ou, como eu prefiro dizer, foi cuidadosamente planejado para dar errado), quem leva a fama de incompetente é o gerente do projeto e sua equipe.
As recentes investigações sobre os conchavos entre governantes e grandes empreiteiros mostraram claramente que o sucesso de um empresário no Brasil depende muito pouco de sua eficiência ou produtividade; vale mais ter amigos influentes e subornar as pessoas certas. Neste tipo de cenário, não há espaço para que o gerente de projetos mostre sua competência, uma vez que os contratos já nascem viciados, prazos e orçamentos são obras de ficção, escopos são mal definidos... A única coisa que resta ao GP é apagar incêndios e preparar belas apresentações de power point para fingir que está tudo bem, enquanto espera a hora em que a bomba vai explodir. Não é para isto que o sujeito se especializa nesta área, entendo eu.
Acredito que o grande benefício que a “Lava-jato” pode trazer para os futuros projetos brasileiros é deixar claro o quanto este modelo é prejudicial para todo mundo – sim, porque projetos mal planejados acabam com a economia de um país, conforme estamos sentindo na pele. A solução, simples, é adotar um modelo baseado na meritocracia, conforme funciona em todo o mundo civilizado, trazendo para a liderança das estatais, que ainda são o principal motor deste país, gerentes escolhidos por sua competência (e não apadrinhados), que tenham liberdade para decidir sobre projetos e contratos (e sejam cobrados por isto, é claro). Isto fará com que se destaquem as empresas verdadeiramente competitivas, preocupadas em firmar e cumprir compromissos de prazos, custos, qualidade e escopo.
Este pode ser o momento histórico para que se proponha uma profunda mudança de “modus operandi” e de paradigmas. Para que nunca mais um alto gerente da Petrobras passe pela situação contada pelo meu amigo (e que demonstra, claramente, que a interferência nefasta do governo sobre a empresa não é uma doença recente. Particularmente, acho que a diferença é que o populismo dos dois últimos governos extrapolou todos os limites do bom senso, levando a empresa a uma situação de quase insolvência com o único objetivo de se manter no poder. Opinião de quem trabalhou lá de 1976 até 2014, quem quiser discordar fique à vontade. Fecho o parêntese).
Resumindo, acho que podemos sair desta confusão muito mais fortes, e chegar, em um prazo não muito longo, a um Brasil eficiente, onde gestores públicos, empresários e trabalhadores estejam alinhados e comprometidos com os resultados. Este é o cenário perfeito para que os bons gerentes de projetos façam o seu trabalho, e apliquem na prática os conhecimentos que adquiriram, numa relação que é positiva para todos. Pode ser que seja só um sonho, mas eu prefiro acreditar. Mesmo porque, se a gente não acreditar, aí mesmo é que não acontece nada.