segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Quarenta anos de formado. Já?

No dia 13 de dezembro de 1975, numa enorme festa no Ginásio Gigantinho, do Internacional, eu e mais uns 300 formandos do curso de engenharia da UFRGS recebemos o nosso diploma. É interessante notar que no dia seguinte, no Estádio ao lado deste ginásio, o Inter venceu o Cruzeiro em um jogo épico, e conquistou seu primeiro campeonato brasileiro de futebol, mas meu coração gremista prefere ignorar esta coincidência histórica.
Hoje, quarenta anos depois, como está o Brasil, e a engenharia brasileira? É claro que é possível escrever vários artigos e talvez até um livro sobre o assunto, mas vou tentar focar em alguns poucos pontos, para evitar que o provável leitor desista só de olhar.
1. O perfil do engenheiro; fiz parte da última geração que ainda utilizou réguas de cálculo. Conheci uma calculadora de quatro operações quando já estava no terceiro ano da faculdade, e o nosso conceito de “computador” ainda era o monstrengo chamado “IBM 1130”. O avanço da informática trouxe, na minha visão, duas consequências importantes, uma ruim e uma boa;
a) Perda da sensibilidade matemática; sem querer puxar a brasa para o meu assado, entendo que a falta de ferramentas nos obrigava a entender melhor os problemas e ter uma boa noção sobre ordem de grandeza (tínhamos que trabalhar sempre com números redondos). Hoje vejo engenheiros que são apenas “pilotos de planilha”; colocam os dados e registram as respostas, automaticamente. Veja bem, não estou dizendo que são menos inteligentes do que os antigos; apenas ficaram preguiçosos, nunca precisaram fazer uma conta de cabeça. E isto faz falta;
b) Desenvolvimento de outras qualidades; como passávamos a maior parte do tempo envolvidos com contas e números a parte “humana” dos engenheiros da minha época era uma verdadeira tragédia (veja bem; estou falando em termos médios). Assim, quando ele evoluía para posições gerenciais, costumava se portar como um ogro. Hoje, a parte “braçal” da matemática é feita por computadores, e os engenheiros (em média, repito) estão muito mais habilitados a lidar com questionamentos fora da sua área de atuação. Isto é ótimo.
2. O Brasil mudou só um pouquinho; cursei a faculdade no momento mais forte e repressivo da ditadura militar, no início dos anos 70. Também vivi o “milagre brasileiro”, na época. Depois de formado vi, com satisfação, a evolução para um estado democrático, mas também sei que o maior fator para o fim da ditadura foi a decadência econômica do modelo que nos levou ao “milagre”. Hoje vejo com tristeza que a situação se repete; o PT copiou exatamente o que deu errado no modelo militar e estamos diante de uma nova crise pós-“milagre”. Sem entrar muito em detalhe, o que eu entendo disto tudo é que nos faltou uma evolução cultural; estamos em um estado democrático, e espero que ninguém pense em sair dele, mas o fato é que não temos ainda um debate político qualificado (continuamos com briguinhas ideológicas, tipo neo-liberais x bolivarianos, assim como antigamente eram comunistas x reacionários, enquanto o mundo civilizado já passou deste estágio há tempos). A própria estrutura de poder não evoluiu; o Presidente da República, embora agora seja eleito por voto popular, mantém poderes quase ditatoriais, o que pode ser visto no caso da Petrobras, onde ficou claro que Presidente, Diretores e Conselho de Administração da empresa nunca tiveram liberdade para discordar do Palácio do Planalto; quem não dançar conforme a música, vai embora. Resumindo, não somos mais uma ditadura, mas ainda estamos longe de uma cultura democrática. E, infelizmente, isto faz muita diferença, ainda.
3. As mulheres arrombaram a porta; esta talvez seja a mudança cultural mais significativa e interessante de todas. Sim, eu fui criado em uma sociedade em que as “moças de família” casavam virgens e eram treinadas para o papel de esposas e donas de casa. “O avental todo sujo de ovo” citado na melosa canção, era o diploma de “rainha do lar”, a mãe e esposa exemplar e submissa. Fico impressionado em ver como as coisas mudaram tanto em tão pouco tempo. Para ter uma ideia de qual era o papel da mulher na sociedade de então, digo que, dos 400 alunos aprovados no vestibular de engenharia da UFRGS em 1971, apenas 20 (ou seja, 5%), eram mulheres. E, se a memória não me falha, este número foi um recorde para os padrões da época. Impressionante como, em poucas décadas, chegamos ao ponto de ter uma mulher ocupando a Presidência da República (embora não seja, seguramente, o mais brilhante exemplar da espécie, mas tudo bem). É claro que ainda existem bolsões de resistência machista, afinal quarenta anos é muito pouca coisa em termos de história, mas esta foi uma evolução espetacular. Uma vitória para as mulheres, e para toda a sociedade.
4. Perspectivas futuras; este é outro ponto onde o mundo mudou muito. Em 1975 a expectativa de vida útil do ser humano era bem menor. Minha geração foi a que largou o cigarro (eu, graças a Deus e a uma bronquite asmática na infância, nunca tive nem a curiosidade de experimentar), e também começou a dar importância a uma alimentação saudável e exercícios físicos. A famosa música dos Beatles colocava a idade de 64 anos como a porta do asilo (“will you still need me, will you still feed me, when I’m 64?”). Pois bem, eu e meus colegas estamos hoje nesta faixa (eu completo os 64 em 11 de março próximo) sem necessidade de que alguém nos alimente, e com a certeza de que ainda precisam da gente. E, entendo eu, com a possibilidade de assumir o protagonismo na maior mudança da história do Brasil. Porque estamos assistindo a cenas inéditas; empresários, diretores de empresas estatais e privadas e até políticos de primeiro escalão estão indo em cana. Agora, para que isto traga resultados práticos, é preciso que não fiquemos na posição de meros torcedores; é hora de entrar em campo, exigindo que novas bases sejam estabelecidas. Sai de campo o compadrismo, as capitanias hereditárias, o “jeitinho brasileiro”, o autoritarismo; entram a meritocracia, a competitividade, a eficiência e a educação de qualidade. E nós, engenheiros, somos importantes para que este jogo vire. Afinal, se tem alguém que entende de projetos, somos nós.
Quem viver, verá.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Tiririca presidente? Por que não?

Da série "um País não pode ser maior do que os valores de seu povo";
Soube hoje que o deputado Tiririca (não sei nem o nome, nem o sobrenome dele) é o quinto na linha sucessória para ocupar a Presidência da República, caso se confirme o "impeachment" da "Presidenta" (argh....) Dilma. O engraçado é que já vi e ouvi muita gente boa dizendo que o Tiririca é um deputado exemplar, porque não falta às sessões e não é corrupto. Acrescento, por minha conta, que, até onde estou informado, ele não bate em mulher, paga seus impostos, etc...
Com todo o respeito, este é um currículo mínimo para qualquer função, mas para citar alguém como "exemplar" na sua área de atuação, entendo que o sujeito tem que ter a chamada "competência específica".
Considero que Tiririca pode ser chamado de "humorista exemplar" (quase falei "palhaço exemplar" mas, infelizmente, este termo pode ter outras conotações) porque, além das qualidades acima, também é um cara muito engraçado, capaz de fazer a gente rir.
Agora, para citá-lo como "deputado exemplar", gostaria de saber quais foram os projetos de lei que apresentou, qual seu posicionamento diante das grandes questões nacionais, e coisas assim. E isto ninguém sabe - provavelmente, nem ele.
Resumindo; um País que espera tão pouco de seus homens públicos, não vai chegar muito longe, mesmo. E a culpa não é do Tiririca; é de quem votou nele "só de zueira".
Pensem nisto...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ser canalha no futebol é normal?

Da longa série “no fundo, somos todos canalhas”;
O campeonato brasileiro de futebol chega à sua última rodada, e nos apresenta uma situação que não é inédita, mas faz pensar. O Vasco, presidido pelo neandertal Eurico Miranda, depende do resultado do jogo do Fluminense para não cair. E justamente pelo comportamento troglodita do citado diretor, vejo vários amigos tricolores cogitando a “entrega” do jogo para o Figueirense, o que seria a pá de cal para as pretensões do Vasco de permanecer na série A.
Veja bem, ninguém está falando que o time, por já não disputar nada, vai jogar desmotivado e, provavelmente, desfalcado; o papo é “entregar o jogo”. E depois curtir, feliz, com a desgraça dos cruzmaltinos.
Esta proposta ajuda muito a entender os valores e crenças brasileiros e, por tabela, explicar o nosso alto índice de corrupção e falcatruas. Afinal, se analisarmos sob o ponto de vista de negócio, é muito melhor para os tricolores ter o Vasco na série A do que o Figueirense; são dois clássicos garantidos em 2016, e uma viagem a menos, é só fazer as contas. O próprio futebol do Rio se fortalece, na hora de reivindicar alguma coisa, se todos os seus times estiverem na divisão de elite. Além disto, este tipo de atitude acaba por desvalorizar o futebol como um todo; quem quer assistir a um jogo de cartas marcadas?
Mas o mais importante é o aspecto ético e moral. Afinal, se o torcedor do Fluminense considera que entregar um jogo é coisa normal, então não pode reclamar das safadezas e falcatruas de políticos e empresários. E o mesmo se aplica a torcedores de outros clubes (inclusive o meu Grêmio, que fez coisa parecida no jogo com o Flamengo em 2009). Resumindo; se a gente apoia este tipo de sacanagem, então não temos moral para sair na rua reclamando de corrupção e desvio de verbas.
Enfim, ainda temos um longo caminho a percorrer no campo da ética e da disciplina. E não adianta rotular os políticos como “canalhas”; eles são apenas o reflexo de nós todos, a sociedade dos pequenos canalhas otários. A mudança cultural é possível, mas tem que começar dentro de cada um. E enquanto nós brasileiros escolhemos continuar com estas atitudes pequenas, do outro lado do Oceano alguém grita; Gooool da Alemanha!

sábado, 28 de novembro de 2015

Quando as instituições não funcionam...

Mais uma da longa série “tentando entender o Brasil”;
Notícia do Globo de hoje, sobre um suposto estupro no alojamento da UFRJ (ver; http://">http://oglobo.globo.com/rio/policia-apura-denuncia-de-estupro-dentro-de-alojamento-da-ufrj-18162106), acabou despertando minha atenção por outro motivo.
Ocorre que o suposto estuprador é o mesmo cara que, em abril/2013, causou um sério acidente (com mortes) na Av. Brasil. Detalhe; ele não estava dirigindo. Ele era o passageiro de um ônibus, que não parou no ponto que ele queria (justamente na Cidade Universitária). Indignado, Rodrigo (este é o nome do cidadão) agrediu o motorista do ônibus com um chute, o motorista perdeu o controle do veículo que caiu de cima de uma passarela, causando a morte de alguns passageiros.
Na mesma notícia li que Rodrigo (descrito por colegas e professores como bom aluno e bem-humorado) já tinha dois processos anteriores por agressão. No meu diagnóstico de leigo, um típico caso de dupla personalidade.
A pergunta é; como um sujeito com um histórico destes continua circulando livremente pelas ruas? Não sei se ele é culpado do estupro, mas depois de ter aprontado até casos com morte de inocentes, o cara continua por aí para fazer mais merda? Não levou nem cartão amarelo?
Em represália ao suposto estupro, colegas dele queimaram a cama onde Rodrigo dormia. É o tipo da reação que não serve prá nada, afinal a instituição é pública e quem vai pagar pela nova cama somos nós mesmos, mas mostra apenas que, quando as instituições não funcionam, as pessoas tomam a justiça nas próprias mãos. E vão fazer merda, também.
Uma pequena notícia que ajuda muito a explicar o Brasil.

domingo, 15 de novembro de 2015

Perdão foi feito prá gente pedir

Da série “falar em perdão numa hora destas?”
Li hoje que um dos terroristas suicidas que causaram centenas de mortes em Paris na triste sexta-feira 13 era francês e tinha 29 anos. E lembrei de meu conterrâneo Lupicínio Rodrigues; “Estes moços, pobres moços, ah se soubessem o que eu sei...”.
Maior que a indignação, o ódio e o desejo de vingança, na minha visão, tem que ser a reflexão que a civilização ocidental deve fazer neste momento sobre onde é que NÓS erramos. Porque não se pode esperar que o lado das trevas faça isto; eles só querem a volta à Idade Média, só que agora com fuzis e explosivos sintéticos (que foram desenvolvidas pela ciência do lado da “luz”, diga-se).
O que precisa ocupar nossos pensamentos não é apenas o desejo de exterminar todos estes fanáticos do planeta; mas sim procurar entender o que leva um sujeito de vinte e poucos anos, vivendo em um lugar decente, que lhe proporciona todas as oportunidades, a fazer a opção pelo suicídio “glorioso” levando consigo um monte de inocentes.
Combater o terror é a prioridade do mundo; sem dúvida, ervas daninhas tem que ser contidas antes que tomem conta do jardim. Mas é preciso ir além e buscar a explicação para este fenômeno. Porque tantos jovens estão, usando as palavras do já citado poeta gremista, “deixando o céu por escuro e descendo ao inferno, à procura de luz”?
Li, em algum lugar, que a grandeza de uma religião não se mede pelo número de pessoas que ela exclui, mas sim pelos que ela é capaz de incluir. Quando Jesus falou “Ama teu próximo como a ti mesmo”, a frase acabou ali, ele não acrescentou algo do tipo “desde que ele pense do mesmo jeito que você”. A boa religião é a que te faz mais doce, paciente e disposto a aceitar o próximo, por mais difícil que isto possa parecer. Infelizmente, não é o que acontece com as religiões de hoje, mesmo as consideradas “civilizadas”. Talvez aí esteja a origem do problema.
Eu sei que é difícil, mas peço hoje um momento de oração por estes moços que se perderam no caminho e, num instante de fraqueza, perpetraram tanta barbárie contra os outros e contra si próprios. E que Deus nos dê a luz necessária para que possamos achar a solução definitiva para este mal. Que passa muito mais pela compreensão e pela inclusão do que por mais preconceito e violência, tenho certeza.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

REDUÇÃO DA EMISSÃO DE GASES; ENTRE A POESIA E O PROJETO

Infelizmente tenho um gosto musical totalmente diferente da maioria, e curto compositores que pouca gente conhece. Isto, provavelmente, vem desta minha mania (totalmente ultrapassada) de gostar de letras com significado, estruturadas em frases com sujeito, verbo e objeto. Isto me faz fã de nomes como Renato Teixeira, Paulo César Pinheiro, Luiz Vieira e outros que pouquíssima gente sabe que existem. Tudo bem, se a maioria absoluta prefere Valeska Popozuda e Michel Teló quem deve estar errado sou eu, mesmo.
Nesta minha busca por qualidade musical descobri, há algum tempo, um sujeito chamado Geraldo Azevedo, capaz de escrever uma coisa absolutamente linda, chamada “Dia Branco”. Para quem não conhece, a letra começa assim; “Se você vier, pro que der e vier comigo, eu te prometo o sol, se hoje o sol sair, ou a chuva, se a chuva cair...”. Nada mais lindo que o poeta pobretão dizendo à sua musa que nada tem a oferecer, além do que chamamos “amor”. Em tempos de “Material Girls”, acredito que nenhuma mulher mais acha interessante um papo destes, mas, enfim... poesia é a arte do impossível. Ou algo assim.
Antes que alguém pense que eu esclerosei de vez, gostaria de fazer o “link” entre o bom Geraldo Azevedo e o gerenciamento de projetos; é que, fiel ao meu espírito de velhinho metido a engraçado, elegi esta como a “Melô do Gerente de Projeto”; para quem não entendeu, acho que o bom gerente é aquele que não promete nada além do que pode cumprir. E, na grande maioria das vezes, nós só podemos prometer o sol e a chuva, desde que eles concordem com isto. Ou seja, nada.
Tudo isto me veio à cabeça ao ler o anúncio feito com pompa e circunstância, em plena ONU, pela nossa preclara “Presidenta” sobre as metas de redução de emissão de gases no Brasil; 35% até 2025, e 43% até 2030.
Minha longa experiência com gerenciamento de projetos me ensinou a duvidar deste tipo de números, por princípio. Além disto, a credibilidade da anunciante já anda abalada demais. Resumindo, gostaria de fazer apenas algumas perguntas;
a) De onde saíram estes números? Existem estudos conclusivos sobre o assunto? Estão disponíveis?
b) Teremos um cronograma com metas intermediárias (algo do tipo; até 2018 vamos reduzir em 5%, depois mais 10%, e assim por diante)? Ou o plano é empurrar com a barriga até 2024 e depois dizer “Ih, pessoal, foi mal, não deu, fica prá 2065, tá bom assim”?
c) Existe um plano de ações coordenadas definido? Ou depois a gente vai pensar nisto?
d) Existe um responsável pelo cumprimento do plano (gerente do projeto)? É a própria Dilma? E se o PT sair do poder em 2018, ninguém mais será responsável por nada?
e) Existe um plano de gerenciamento de riscos? Alguém já pensou nisto?
f) Resumindo, isto é um projeto ou um mero desejo (eu gostaria que a emissão de gases diminuísse)?
Só para livrar a cara dos meus amigos petistas, gostaria de dizer que tudo o que foi dito acima, sem tirar nem por, é o que aconteceu com o “Projeto de despoluição da Baía da Guanabara”, que já foi anunciado por diversos governantes de todos os partidos ao longo de muitos anos, e nunca saiu do papel. Na versão mais recente que lembro, o projeto foi anunciado como “prioritário” em 2002, quando o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos jogos Pan-americanos de 2007. Agora estamos em 2015, os atuais governantes jogaram a toalha e admitiram que a raia olímpica de 2016 vai ser a mesma porcaria que conhecemos. Depois a gente vê como é que fica.
Resumindo; uma meta de longo prazo, anunciada sem definição de cronograma, escopo e orçamento não é um projeto, é poesia. E se é para ser poesia, a Dilma que me perdoe, mas prefiro ouvir o bom Geraldo Azevedo, prometendo à amada “um dia branco, se branco ele for, este tanto, este canto de amor...”.
Até a próxima.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A Síndrome do Coelho da Alice

Da série “reflexões de um desocupado profissional”;
Sempre gostei de dois personagens do livro Alice no País das Maravilhas; o coelho branco e a rainha de copas. O primeiro vivia correndo de um lado para outro, carregando um relógio e dizendo que tinha pressa, mesmo sem saber direito para onde ia. Já a rainha, sempre que contrariada, só sabia ordenar; “cortem a cabeça!”.
Muitas vezes, durante projetos encrencados em que estive envolvido, alertei os colegas para o que eu batizava como “Síndrome do Coelho da Alice”; o cara ficava tão pressionado que tentava fazer tudo ao mesmo tempo e acabava fazendo tudo errado. Eu mesmo procurava organizar as minhas preocupações usando um método simples; anotava tudo em um caderninho, dividindo em “incêndios”, “importantes” e “VPMT – vou pensar mais tarde”. Havia uma última coluninha secreta, com o título “DPL (deixa prá lá)”, onde eu colocava tudo aquilo que me incomodava, mas eu não tinha como resolver, portanto não devia ocupar meu tempo. Diga-se que, nos meus últimos anos de Petrobras, esta era a coluna mais cheia... Enfim, deu no que deu.
Hoje o Brasil é muito parecido com o reino de Alice; Dilma cabe exatamente no papel da rainha desorientada e mandona, enquanto o Ministro Levy, provavelmente o único cara com um mínimo de bom-senso na corte dos malucos, é o coitado do coelhinho, que corre para todos os lados, mas não consegue resolver nada. Seria até divertido, se nós não fossemos os passageiros deste ônibus sem freio, ladeira abaixo.
Até a próxima.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Teorias conspiratórias no futebol - até quando?

Mais uma da longa série “porque que a gente é assim...”;
Mesmo sem nenhuma base científica para afirmar isto, penso que o Brasil é o país com maior número de teorias conspiratórias por metro quadrado do mundo. E o futebol, nosso vício maior, é o campo onde esta praga mais acontece. Todo mundo garante que os campeonatos são decididos pela Globo, pela Nyke, pelo Galvão Bueno e pela bancada da bola no congresso, dependendo do vilão do momento. Jogadores e árbitros são apenas marionetes, que seguem um roteiro perfeitamente definido. E o pior é que ninguém aceita argumentos lógicos que provam o contrário.
Ontem, mais uma vez, os fatos contrariaram estas teorias ridículas. Corinthians e Flamengo, que todo mundo jura que são os escolhidos de Deus (ou da Globo, o que, no Brasil, é a mesma coisa), foram eliminados da Copa do Brasil logo nas oitavas. Tudo bem que seus adversários, Vasco e Santos, também são grandes. Mas o que dizer do Galo Mineiro, campeão do ano passado, que foi eliminado pelo Figueirense (que, com todo o respeito, em termos de respercussão nacional é apenas um Figueirense), em um jogo com uma expulsão prá lá de polêmica que acabou influenciando no resultado final?
Resumindo, vou falar o que sempre falo; o jogo se decide no campo. É claro que os juízes erram, e até acredito que, em caso de dúvida, podem, ocasionalmente, optar por favorecer o time mais poderoso, mas nada que se compare a “conspirações” para que A ou B seja o campeão.
Só para alinhar mais um argumento; com todo o escândalo que está sendo revelado na FIFA, até agora ninguém falou em “entrega” de jogos (conforme muita gente jura que aconteceu na final da Copa de 1998, por exemplo), ou compra de árbitros para decidir campeonatos. E o motivo é simples; isto pode até acontecer, mas em casos muito raros e isolados.
Mas eu sei que ninguém vai acreditar nisto, portanto, cada um que fique com suas verdades. Mesmo quando os fatos provam o contrário...

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O problema das drogas; será que não está faltando bom senso?

Mais uma da série; “ninguém me perguntou nada, mas eu acho que...”;
Nunca consegui ver o menor sentido neste debate sobre descriminalizar o uso de drogas, mantendo a proibição da produção e venda. Afinal, esta proposta não resiste â lógica mais elementar; se alguém esta portando uma substância cuja venda é proibida, é porque comprou de forma ilegal e, portanto é, no mínimo, sócio do criminoso. Ninguém pode alegar inocência dizendo que comprou um produto contrabandeado ou que exigiu propina “para uso pessoal”. Ou é proibido ou não é. Simples assim.
Minha proposta de solução para o problema é mais simples ainda; é proibido proibir, libera tudo e estamos conversados. E diga-se que quem está falando aqui é um dos caras mais "nerds" de toda a geração de Woodstock; só para ter uma ideia, eu nunca fumei um cigarro, legalizado ou não (e, diga-se, isto nunca me fez a menor falta).
A justificativa deste meu ponto de vista é mais simples ainda; a melhor maneira de combater um mau hábito é o esclarecimento, que só acontece na medida em que as coisas são tratadas de forma transparente. O fracasso da “lei seca”, nos Estados Unidos do início do século passado, e os recentes sucessos obtidos pelas leis de restrição do consumo de álcool para motoristas e ao tabagismo, de um modo geral, são exemplos altamente positivos. Veja bem, ninguém pensou em colocar na ilegalidade os fabricantes e vendedores de bebidas e cigarros, todo este setor funciona muito bem, gerando empregos e impostos, mas a sociedade consegue, cada vez mais, coibir os efeitos maléficos do uso destas substâncias. Você fuma e bebe o que quiser, só não pode prejudicar os outros. Não vejo porque isto não iria acontecer com as outras drogas. No vizinho Uruguai, a maconha foi liberada e, no depoimento do próprio presidente Mujica, “o mundo não acabou”.
De qualquer forma, se é verdade que a “sociedade não está preparada para isto”, conforme dizem todos os que insistem em manter o status atual, entendo que a repressão, então, tem que ser total. E aí entendo que o melhor é adotar logo a lei de Cingapura, onde a pena (de morte) é a mesma para quem é descoberto com dez gramas de droga ou uma tonelada. Lá, pelo menos, o sujeito tem amplo direito de defesa, e o próprio estado se encarrega da execução, quando é o caso, enquanto aqui a pena de morte é decretada e executada pelos traficantes, num processo muito mais injusto e ruinoso para todo mundo, além de aumentar exponencialmente o número de inocentes mortos. Ressalto mais uma vez que não concordo com nada disto, mas entendo que, se a escolha da sociedade é pela repressão (que não é a minha opção, repito), que, pelo menos, seja feita de forma eficiente. Somando e subtraindo, o número de mortos lá é muito menor do que aqui, e o sentimento de segurança nas ruas, incomparavelmente maior.
Resumindo, conforme diria minha sábia avó lá de Santa Maria, ou é calça de veludo ou bunda de fora. Se a opção é proibir, que o estado o faça com mão pesada e coloque logo todo mundo no mesmo saco. O bom senso me levar a pensar que liberar tudo seria a opção mais inteligente, até mesmo para diminuir e controlar o consumo. Mas ficar no meio do caminho, seguramente, é a pior opção.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

MAIS UMA VÍTIMA DE "PRECONCEITO". SERÁ MESMO?

Mais uma da série “pequenas coisas que me irritam muito”:
O técnico Cristóvão Borges, que vem fazendo um trabalho altamente questionável no Flamengo, veio a público reclamar que algumas das críticas que tem sofrido teriam “conotação racista”. Sou contra qualquer tipo de preconceito, seja ele racial, sexual, religioso, ou o que for, mas não aguento mais esta postura de “coitadismo” que alguns representantes de supostas minorias prejudicadas adotam em situações de pressão.
No esporte, principalmente, temos um campo em que o preconceito funciona muito pouco. Lembro que Felipão, quando questionado sobre racismo no futebol, disse uma frase que eu nunca esqueci; “olha, dentro de campo não tem nada disto. A única coisa que interessa é se o cara joga bola ou não joga. Se ele é bom, ninguém vai perguntar se ele é branco, preto, amarelo ou verde; todos querem o cara no seu time”. Concordo em gênero, número e grau.
Para não ir muito longe, no meu Grêmio, cuja torcida é sempre citada como racista, estão todos encantados com o trabalho do negro Roger (que substituiu o branco Felipão), principalmente depois dos 5x0 no último grenal (desculpem, mas eu não podia deixar de falar nisto). Enquanto isto, naquele outro time de Porto Alegre, o branco Diego Aguirre foi jogado fora como se fosse um papel higiênico usado, uma atitude grosseira e mesquinha, seja qual for a cor da pele dos envolvidos.
Enfim, futebol ainda é um lugar onde a meritocracia funciona bem (pelo menos dentro do campo). O bom e educado Cristóvão não precisava disto. Ele já está no futebol há tempo mais que suficiente para saber que a regra é esta; ganhou, vai ficando, perdeu, cai fora. Não interessa se é branco, preto, cinza, verde...

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O NOCAUTE VOCÊ VIU. E O PROJETO POR TRÁS DO NOCAUTE?

O assunto mais importante para os fãs de esporte durante as últimas semanas foi a preparação para a luta feminina de MMA mais esperada da história, entre a americana Ronda Rousey e a brasileira Bethe Correia. E o resultado foi, até certo ponto, decepcionante; meses e meses de provocações, xingamentos e guerra de nervos, resultaram em míseros 34 segundos de combate – tempo necessário para a americana nocautear a brasileira com dois socos bem dados.
A vitória de Ronda não chegou a ser surpreendente, mas a forma pela qual foi obtida sim. Porque a aposta de todos os comentaristas especializados era que a brasileira, fisicamente mais forte, poderia vencer na troca de socos, e que Ronda, especialista em judô, tentaria levar a luta para o chão. Na hora, Ronda fez exatamente o contrário do que era esperado, e se deu muito bem. Nas entrevistas pós-massacre, a lourinha com cara de anjo, mas boa de briga, disse que foi tudo meticulosamente planejado e executado justamente com o objetivo de pegar Bethe de surpresa – e foi aí que eu comecei a me interessar por analisar o assunto sob o ponto de vista de gerenciamento de projetos.
Realmente, uma luta é um projeto interessante, uma vez que o atleta passa meses treinando (fase de planejamento) e a fase de execução pode durar apenas alguns segundos. Se me permitem a piadinha, no caso, a executada foi a pobre da Bethe, que ainda não deve ter achado o rumo de casa. Agora, se pensarmos em termos de projeto, o da americana foi bem planejado e muito bem executado. Já a brasileira me pareceu muito mais preocupada em fazer guerra de nervos e tentar desconcentrar a adversária (o que, num esporte individual e violento como este, faz parte do jogo), mas não conseguiu, na hora da verdade, apresentar qualquer alternativa tática para a proposta da adversária. A impressão que tive (aviso, desde já, que não sou especialista no assunto), foi que a única estratégia de Bethe era “acertar um bom soco na carinha dela”, conforme disse em várias entrevistas. Acredito que isto não é suficiente para disputar um título mundial.
Este “causo” todo acabou por me trazer à memória o folclórico Adilson “Maguila” Rodrigues, boxeador que chegou a ter seus momentos de fama há uns trinta anos. Ao contrário da grosseira e malcriada Bethe, o simplório Maguila era uma figura muito tranquila e, sempre que era provocado por algum rival nas entrevistas antes das lutas, usava uma frase que era quase um mantra; “este cara vai “tumá” é “muincha” porrada”, dizia ele, com aquele simpático sotaque carregado dos sergipanos, que eu aprendi quando morei em Aracaju e me traz boas lembranças até hoje. E o mais legal é que ele dizia isto sem se exaltar, quase com preguiça...
Maguila teve uma bela carreira, chegou a ser campeão sul-americano e um dos dez mais bem ranqueados do mundo, mas, na hora em que enfrentou adversários mais qualificados, que exigiriam uma preparação e alternativas táticas mais criativas do que “dar muincha porrada”, se deu mal. O caso de Bethe é semelhante (ela estava invicta, lembrem). Enfim, dois exemplos que nos servem de lições aprendidas, que devem ser aplicadas ao mundo do gerenciamento de projetos; você pode até realizar alguns projetinhos com sucesso só na base da intuição e do bom senso, mas, se quiser realmente ser competitivo e dar um salto de qualidade, é preciso se capacitar e buscar apoio de quem conhece mais o assunto.
O maior lutador da história, Muhammad Ali, na sua luta mais brilhante, contra George Foreman, em 1974, fez melhor ainda; mudou o plano do projeto no meio da luta. Isto, obviamente, é só para os gênios; mas este “causo” eu vou contar outro dia...

sábado, 1 de agosto de 2015

A VIDA NÃO É FÁCIL PARA OS GERENTES DE PROJETOS NO BRASIL. MAS ISTO PODE MUDAR...

Começo esta reflexão contando um “causo” que ouvi há mais de vinte anos, em uma mesa de bar, depois de muitos chopes e que, portanto, pode ser pura fantasia. Quem contou foi um colega, já então aposentado da Petrobras, e que tinha sido assistente de um diretor da empresa lá pelo final dos anos 80, na época do governo Sarney. Pois o tal diretor, ao final de um dia particularmente estressante, teria dito algo do tipo; “Eu sou diretor da maior empresa da América Latina, mas não tenho poder nem para sugerir mudanças no preço do meu produto, não posso dar bônus para um bom funcionário, nem demitir ninguém, nem mexer na carteira de projetos... afinal, o que eu estou fazendo aqui?”. E pediu as contas no dia seguinte.
Verdadeira ou não, esta história mostra uma realidade tipicamente brasileira; somos a terra do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Esta cultura, quando aplicada ao mundo de gerenciamento de projetos, causa danos irreparáveis.
Sempre procuro transmitir aos meus alunos que, muito mais do que aprender técnicas e ferramentas, para que toda esta formação apresente resultados e ganhe credibilidade, é necessário trabalhar para que se crie no Brasil uma cultura de gerenciamento de projetos. E esta cultura é, em sua essência, altamente democrática, ou seja; todos devem ser ouvidos na fase de planejamento, para que tenhamos metas factíveis e equipe comprometida com o resultado. Funciona assim no mundo todo.
A dicotomia entre estas boas práticas aprendidas nos cursos e a dura realidade do dia a dia talvez seja a melhor explicação para a situação anômala que vivemos no Brasil de hoje; temos muitos cursos de MBA e pós-graduação nesta área, centenas de profissionais especializados entram no mercado todo ano, o número de certificados PMP cresceu exponencialmente, mas, ao contrário do que era de se esperar, toda esta qualificação de mão de obra não se refletiu em resultados, e nossos projetos vão de mal a pior – atrasos colossais, prazos estourados, mudanças totalmente sem controle...
Porque isto acontece? Na minha visão, o problema é que o nosso sistema de tomada de decisões é o mesmo desde as capitanias hereditárias; o grande senhor da terra dá as ordens e os vassalos se viram para tentar cumprir o que, na maioria das vezes, todos sabem que é impossível. Existe uma clara divisão entre a casta superior, que define os objetivos do projeto sem consultar ninguém, e os subordinados, incluindo aí o pobre do gerente do projeto, que ou aceita trabalhar assim ou vai arrumar outro jeito de ganhar a vida. E quando tudo dá errado, porque foi mal planejado (ou, como eu prefiro dizer, foi cuidadosamente planejado para dar errado), quem leva a fama de incompetente é o gerente do projeto e sua equipe.
As recentes investigações sobre os conchavos entre governantes e grandes empreiteiros mostraram claramente que o sucesso de um empresário no Brasil depende muito pouco de sua eficiência ou produtividade; vale mais ter amigos influentes e subornar as pessoas certas. Neste tipo de cenário, não há espaço para que o gerente de projetos mostre sua competência, uma vez que os contratos já nascem viciados, prazos e orçamentos são obras de ficção, escopos são mal definidos... A única coisa que resta ao GP é apagar incêndios e preparar belas apresentações de power point para fingir que está tudo bem, enquanto espera a hora em que a bomba vai explodir. Não é para isto que o sujeito se especializa nesta área, entendo eu.
Acredito que o grande benefício que a “Lava-jato” pode trazer para os futuros projetos brasileiros é deixar claro o quanto este modelo é prejudicial para todo mundo – sim, porque projetos mal planejados acabam com a economia de um país, conforme estamos sentindo na pele. A solução, simples, é adotar um modelo baseado na meritocracia, conforme funciona em todo o mundo civilizado, trazendo para a liderança das estatais, que ainda são o principal motor deste país, gerentes escolhidos por sua competência (e não apadrinhados), que tenham liberdade para decidir sobre projetos e contratos (e sejam cobrados por isto, é claro). Isto fará com que se destaquem as empresas verdadeiramente competitivas, preocupadas em firmar e cumprir compromissos de prazos, custos, qualidade e escopo.
Este pode ser o momento histórico para que se proponha uma profunda mudança de “modus operandi” e de paradigmas. Para que nunca mais um alto gerente da Petrobras passe pela situação contada pelo meu amigo (e que demonstra, claramente, que a interferência nefasta do governo sobre a empresa não é uma doença recente. Particularmente, acho que a diferença é que o populismo dos dois últimos governos extrapolou todos os limites do bom senso, levando a empresa a uma situação de quase insolvência com o único objetivo de se manter no poder. Opinião de quem trabalhou lá de 1976 até 2014, quem quiser discordar fique à vontade. Fecho o parêntese).
Resumindo, acho que podemos sair desta confusão muito mais fortes, e chegar, em um prazo não muito longo, a um Brasil eficiente, onde gestores públicos, empresários e trabalhadores estejam alinhados e comprometidos com os resultados. Este é o cenário perfeito para que os bons gerentes de projetos façam o seu trabalho, e apliquem na prática os conhecimentos que adquiriram, numa relação que é positiva para todos. Pode ser que seja só um sonho, mas eu prefiro acreditar. Mesmo porque, se a gente não acreditar, aí mesmo é que não acontece nada.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Será que Deus joga futebol?

Da série “pequenas coisas que têm o dom de me irritar”; jogador de futebol que começa a entrevista dizendo “toda a glória ao Senhor”.
Não sei se é porque estou ficando velho e ranzinza, mas eu não aguento mais isto. Tenho o maior respeito pela religião de todo mundo, mas acho que existe lugar e hora para tudo. Quando ouço um jogador, quero que ele fale sobre futebol. O goleiro Fábio chegou a dizer, certa vez, ao explicar a defesa de um pênalti, que “foi Deus quem defendeu!”. Desculpe, mas eu entendo que Deus não pega pênalti, nem faz gol. E também não tem time favorito.
E o mais triste é que estes caras, na minha visão, mesmo sem perceber (ou, às vezes, até percebendo) fazem um papel de “marqueteiros” da sua igreja. O que fica implícito é; só a minha igreja faz de você um vencedor. Não aceite similares! É quase como o velho "só Esso dá ao seu carro o máximo", o primeiro bordão de marketing da TV brasileira (esta é só para quem tem mais de cinquenta).
Eu acredito na força de Deus, mas entendo que Ele está ao lado de todos nós, sem distinção. E o que decide um jogo de futebol não é Deus (Ele tem coisas mais importantes prá fazer, tenho certeza), mas talento, treinamento, dedicação e até sorte, às vezes. E é sobre isto que eu quero ouvir os jogadores falando.
Enfim, como sou uma pessoa que acredita, antes de qualquer coisa, no bom humor e no entendimento entre as pessoas de todas as crenças, fico imaginando o que vai ser quando um jogador umbandista fizer o gol da vitória e disser, na entrevista; “foi meu Pai Oxum que me iluminou!”. De preferência ao vivo, na TV do Bispo Macedo... Enfim, são coisas malucas que passam pela minha cabeça desocupada.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

MAIS UMA REFLEXÃO SOBRE FUTEBOL E PROJETOS

A derrota do Internacional para o Tigres, do México, na semifinal da Copa Libertadores de América, além de encher de alegria o meu malvado coração gremista, me fez refletir mais uma vez sobre o problema dos projetos mal planejados e/ou mal executados.
Ganhar a Libertadores era o grande projeto do Internacional para 2015. O clube não mediu gastos para adquirir um elenco de jogadores altamente qualificado, e, na hora de escolher o gerente do projeto (treinador) optou por uma solução inovadora; um técnico uruguaio, ex-jogador do time, alguém com ideias novas e arejadas. Até aí, tudo certo.
Diego Aguirre chegou e propôs logo uma revolução; não vou ter um time titular. A alegação era que alguns grandes da Europa (o famoso Bayern de Munique, dirigido pelo não menos famoso Pep Guardiola era o exemplo mais citado), fazem isto e funciona. Os primeiros resultados foram acontecendo, e o time chegou às semifinais da Libertadores; só que quem conhece um mínimo de futebol sabe que resultados podem ser enganosos, às vezes. E o fato é que, enquanto esperava a chegada dos jogos mais importantes do ano, o time foi colecionando tropeços no campeonato brasileiro e, pior ainda, jogando muito mal, sem conseguir definir uma equipe e um padrão de jogo.
“Esperem, que na hora certa as coisas vão engrenar!”, diziam os dirigentes.
Pois vieram os dois jogos com o Tigres, e o que aconteceu? O time fez duas atuações pífias, nada além do que vinha apresentando. Não conseguiu construir uma boa vantagem no jogo em casa, mesmo tendo um homem a mais durante boa parte do tempo, e levou um banho de bola no segundo jogo (o placar de 3x1 foi até leve diante da realidade da partida). O resultado é que hoje o Internacional acordou sem título, sem time definido, sem confiança no seu gerente e sem saber de onde vai tirar o dinheiro para pagar o seu elenco milionário. Até para tentar conquistar alguma coisa nos campeonatos que restam (Brasileirão e Copa do Brasil) ficou complicado.
Lições aprendidas no processo;
a) Muito cuidado ao copiar modelos estrangeiros. Não dá para comparar a cultura do futebol alemão com o nosso, por exemplo. Além disto, não é verdade que o Bayern “não tem um time titular”; eles têm uma base, sim, e promovem um rodizio planejado para poupar titulares e dar chance a quem está no banco. Ou seja; o projeto é planejado e a execução, seguida à risca. Isto pode levar a mudanças, como quando um jogador reserva entra e prova que tem qualidade para ser titular, mas o padrão do time não muda. Em outras palavras, uma coisa é fazer o planejamento do projeto e controlar as mudanças, outra coisa é não ter plano algum e achar que as coisas vão acabar se resolvendo.
b) Não coloque todos os ovos em um mesmo cesto, já dizia a minha avó. Todo o bom projeto inclui uma cuidadosa análise de riscos e previsão de caminhos alternativos. Isto é básico.
c) Muita atenção quando as coisas começam a dar errado. A pior coisa é acreditar que “no fim tudo vai se resolver”. Infelizmente, isto é uma cultura muito nossa. Citando um exemplo que conheço bem, se a Petrobras tivesse revisado a sua carteira de investimentos há uns cinco anos, quando o balanço já demonstrava que o endividamento era grande demais, não chegaria à situação em que está hoje. Mas a gente sempre prefere acreditar em milagres...
Enfim; o futebol continua nos dando lições sobre gestão de projetos. E vice-versa. Como são dois assuntos que me agradam, vou continuar escrevendo sobre isto...

terça-feira, 14 de julho de 2015

A escala de valores do Brasil e seus reflexos na vida real

Da série “Por que que a gente é assim?” (obrigado, Cazuza);
Tentando explicar a crise brasileira, lembro um economista chamado Douglass North, prêmio Nobel em 1993. Segundo ele, o que define o desenvolvimento (ou não) de um País são as crenças de seu povo. Este fator é mais importante que qualquer outro (recursos naturais, clima, raça, religião, etc...). Uma das melhores frases dele é; “Se um País valoriza a pirataria, vai produzir os melhores piratas”. Pensando no caso brasileiro, criei quatro cenas domésticas que podem explicar muitas das nossas mazelas.
Cena doméstica um; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu sou o melhor jogador de futebol da minha turma!”. Papai-ogro dá um abraço nele e diz, orgulhoso; “garoto bom!”.
Cena doméstica dois; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu já peguei todas as meninas da minha turma, só deixei de lado as feias!”. Papai-ogro, explodindo de felicidade, berra; “Este puxou a mim!”.
Cena doméstica três; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu sou o melhor aluno de matemática da minha turma!”. Papai-ogro dá um sorriso amarelo e pensa; “O que que eu fiz de errado prá ter um filho nerd?”.
Cena doméstica quatro; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu ganhei o concurso de poesia do colégio!”. Papai-ogro perde o controle, dá-lhe logo um tabefe e grita; “Acaba logo com isto, que eu não vou criar boiola aqui em casa!”.
Tá certo, pode ser que eu esteja sendo radical, mas acho que, na grande maioria dos nossos lares, a cena seria mais ou menos assim. Conclusão; somos, provavelmente, o País que mais valoriza a sensualidade, ainda produzimos bons futebolistas, mas temos uma produção científica e tecnológica baixíssima, um índice de analfabetismo funcional assustador, nenhum Prêmio Nobel na estante... Tudo em função das nossas crenças e valores.
Neste caso, não adianta botar a culpa no PT; a gente sempre foi assim. Mas é possível mudar... Eu acredito!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Legalize já!

Da série “se está faltando ideia, eu tenho uma”;
Tenho muita dificuldade de entender porque os cassinos e jogos de azar são proibidos no Brasil. A lei foi assinada pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1946 (ou seja, vai fazer 70 anos em 2016), e, dizem os mais antigos que eu, atendia a um apelo da esposa dele, senhora católica devota que via baralhos e roletas como instrumentos do demônio para destruir a família. Não sei se isto é verdade ou não, mas o fato é que os cassinos são permitidos em quase todo o mundo civilizado, de Mônaco ao Paraguai, representando impostos, atração turística e geração de empregos.
Pesquisei sobre o assunto e descobri que existe um projeto de lei com esta proposta circulando no Senado (o número é 186/2014, se alguém quiser fazer uma fezinha no bicho, rsrs), e seu autor é o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O projeto está encalhado há mais de um ano em uma daquelas subcomissões feitas especificamente para atrapalhar toda e qualquer mudança que se queira fazer neste País.
Catei alguns números interessantes na internet (não me responsabilizo por eles, mas achei razoáveis), que me parecem mostrar, com toda a certeza que, num momento de crise como o atual, a aprovação deste projeto ajudaria a nossa trôpega economia a dar alguns passinhos para frente. Os números são;
- O jogo só é considerado ilegal em cerca de 30 países no mundo. E quase todos eles são dominados pelo fundamentalismo islâmico. Mesmo assim na Turquia e no Egito, países de maioria muçulmana, os cassinos funcionam normalmente.
- O jogo ilegal movimenta algo em torno de R$ 18 bilhões por ano no Brasil;
- O número de empregos diretos que seriam gerados em todo o território nacional é estimado em cerca de 300 mil;
- Apenas no fim de semana em que foi realizada a luta entre Floyd Mayweather e Manny Pacquiao, circularam pela cidade de Las Vegas cerca de 2 bilhões de dólares!
Junte-se a isto a beleza natural de várias cidades deste Brasilzão imenso, e estou certo que teríamos muito lucro com esta pequena mudança na lei (que, repito, não tem nada de inédito; funciona no mundo inteiro). Argumentos contrários lembram que cassinos estão, muitas vezes, associados a fraudes, drogas e prostituição (coisas que, na visão deles, não existem no Brasil hoje). Outros falam que o vício do jogo pode destruir famílias (se for assim, temos que proibir as bebidas alcoólicas, corridas de cavalo, e mais não sei o quê). Eu acho que, pelo menos do ponto de vista estatístico, a legalização do jogo não aumentaria significativamente os problemas que já temos hoje.
Resumindo; a ideia é simples, comprovada, e tem futuro. Como diria Caetano Veloso, na sua imortal “Alegria, alegria”; Por que não? Por que não?

A dama e a vagabunda

Hoje um sujeito mostrou com orgulho, nas famigeradas redes sociais, como conseguiu driblar a segurança, se aproximar da Presidente Dilma Rousseff e chama-la de “vagabunda” (para quem está curioso, é só ver https://br.noticias.yahoo.com/-foi-uma-honra---diz-jovem-que-chamou--cara-a-cara--dilma-de--vagabunda-151903587.html).
Por maiores que sejam os fatos que comprovam todo o dia a incompetência e, em muitos casos, a desonestidade do governo atual, não consigo achar bonito um sujeito chamar uma mulher de “vagabunda”, qualquer que seja a circunstância. E o número de pessoas que apoiam este ato me leva à triste conclusão que vivemos tempos de ódio e irracionalidade.
Há uns vinte e poucos anos, o Brasil inteiro cantava; “Lá vem o negão, cheio de paixão”. Era um sambinha ao melhor estilo brasileiro; bem-humorado, malicioso, inconsequente. Ninguém virou racista por causa disto. Na TV, Didi Mocó matava a gente de rir dizendo para um irritado Dedé; “calma, santa!”. E ninguém virou homofóbico por causa disto.
Hoje existe um mau humor generalizado, um ódio raivoso por tudo o que sempre foi natural e descontraído. Até o todo-poderoso apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, teve que se retratar, quase de joelhos, porque ousou dizer no ar, num raro momento de descontração, que um sujeito “tinha cara de maluco”. A reação da massa frequentadora das redes antissociais foi imediata e carregada de ódio. E o pior é que o sujeito era maluco, mesmo (estava ameaçando derrubar aviões usando o controle remoto da TV, ou algo parecido).
Na política, o saudável enfrentamento democrático deu lugar a uma polarização irracional (que, diga-se a bem da verdade, foi muito atiçada pelo próprio PT, que sempre apostou na estratégia de jogar brasileiros contra brasileiros), que chega agora a um nível de estupidez absurdo.
Bons tempos em que o Brasil não era um país sério. Agora viramos um país chato, raivoso e burro. Muito burro.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

MANIFESTO DO NADA A RESPEITO DE COISA ALGUMA

Para começar bem a semana, um comentário rápido sobre o manifesto lançado pelo PT paulista, torpedeando o ajuste fiscal que o pobre do ministro Joaquim Levy, um ponto de luz na treva intelectual do governo, tenta implementar nesta terra bagunçada. Duas frases chamam a atenção;
a) “Entendemos as razões do governo. Mas o governo tem que entender as razões do PT”. Péra aí, mas o PT não está no governo? A Dilma renunciou? Ou se filiou ao PSDB?
b) “Nossos sonhos não podem ser delimitados pelas estreitas margens que a equação financeira suporta...”. Maravilha! Vou falar isto para convencer o gerente do meu banco a me conceder um financiamento para comprar uma Ferrari e uma cobertura em Ipanema (não necessariamente nesta ordem). Afinal os meus sonhos não podem ser delimitados pela equação financeira do meu salário...
O único consolo que tive é ver que existe alguém no PT que sabe escrever (o texto é bem redigido). Mas o conteúdo... continua o mesmo.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Eduardo Galeano e os milagres do futebol

O mundo ficou um pouco menor desde ontem, com a morte de Eduardo Galeano, jornalista uruguaio dono de um talento raro e uma escrita única. Muito mais do que a discordância que sempre tive de seus posicionamentos políticos, me une a ele o fato de ser um dos maiores cronistas de futebol que passou pelo planeta. Seu livro “Futebol ao sol e à sombra” é leitura obrigatória para nós, os fanáticos pelo esporte que ele, brilhante como sempre, definia como “uma festa pagã, uma religião em que não há ateus”.
Pouco me interessa se ele tinha simpatia pelos regimes populistas de Fidel, Chavez e outros menos cotados. O seu talento foi muito maior do que isto. Sua visão apaixonada do futebol me fez entender, de alguma forma, o absurdo estatístico que é o fato do Uruguai sempre produzir jogadores e equipes de qualidade internacional, mesmo tendo uma população que não chega aos quatro milhões de habitantes.
É este o Galeano que vou guardar para sempre; o grande contador de “causos” do futebol, o homem que conseguiu expressar em palavras toda a poesia e complexidade do mundo da bola, e que só nós, os fanáticos, entendemos. Usando suas próprias palavras, numa frase quase premonitória; “A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais do que eu; e ela não perde o que deverá ser salvo”.
Vai em paz, grande mestre!

terça-feira, 31 de março de 2015

Recordar é viver - artigo meu publicado no site do Globo em fevereiro/2010

Dando uma olhada em arquivos antigos no meu computador, achei este artigo que escrevi em fevereiro/2010 e que foi publicado no site do jornal "O Globo" (naquela época eles abriam esta tribuna para os leitores. Depois acabou, não sei bem porque). Só para lembrar, Lula iniciava o último ano de seu segundo mandato, e procurava pavimentar o caminho para o seu sucessor (que provavelmente nem ele sabia ainda que seria a Dilma. Na verdade pouquíssima gente no Brasil sabia quem era Dilma Rousseff, nesta época). Modéstia a parte, minha profecia foi totalmente confirmada...
'Não há nada que o Brasil precise menos do que um ridículo joguinho de comparações'
Publicada em 11/02/2010 às 13h32m
Artigo do leitor Márcio Hervé
Não há nada que o Brasil precise menos, agora, do que este ridículo joguinho de comparação de obras entre o governo atual e o anterior. Em primeiro lugar, porque não tem como nem o que comparar. O grande salto que o Brasil deu nos últimos 15 anos não se deve ao governo A ou ao partido B, muito menos ao líder Fulano ou Beltrano. O que nós tivemos foi continuidade administrativa (como é comum nos países ditos civilizados). Muitos dos resultados que Lula apresenta como seus são frutos colhidos a partir de projetos dos governos anteriores (se analisarmos bem, até Collor e Sarney têm sua parcela de mérito, em alguns casos). Não se muda um país em quatro ou oito anos, tudo ocorre no médio e longo prazo.
É muito triste que Lula escolha esta linha de confronto com os antecessores. Faria melhor se seguisse o exemplo de Mandela (só para citar um estadista de verdade), que começou o seu governo perdoando as barbaridades cometidas pelos desgovernos anteriores (a começar pela sua própria prisão), e lançou-se a uma bem-sucedida construção de uma África do Sul única e sem revanchismos.
Mas parece que Lula prefere espelhar-se no nosso vizinho Chávez, que prega o ódio e o divisionismo, e dá mais importância a um projeto pessoal de poder eterno do que aos destinos da nação. Tenho certeza que, pela biografia, inteligência e carisma que tem, Lula tinha plenas condições de procurar exemplos melhores. Mas parece que a sua vaidade, neste momento, está falando mais alto. A história, seguramente, reservará lugares diferentes para Mandela e Chávez. E seria muito bom para o Brasil que Lula fizesse uma escolha inteligente sobre ao lado de quem ele quer ficar nesta foto.
Por enquanto, para manter o bom humor, nos resta parodiar Chico Buarque, em seu maravilhoso "Fado Tropical": "Ai esta terra ainda irá cumprir sua sina bela / ainda irá tornar-se uma enorme Venezuela...". Quem viver verá.

terça-feira, 10 de março de 2015

O IMPEACHMENT SERIA A SALVAÇÃO PARA DILMA E LULA (OU; PORQUE SOU CONTRA O CONFRONTO)

O recente pronunciamento da “Presidenta” Dilma foi, antes e acima de tudo, patético. Ela continua negando a realidade, atribuindo a terceiros o fracasso do modelo econômico implantando por seu antecessor e mantido por ela, e repetindo, à exaustão, aquela que parece ser a sua única resposta para tudo; no tempo do PSDB era pior. E pronto.
Em paralelo com isto, considero mais patética ainda a postura de algumas pessoas que, ao invés de acompanhar o discurso, para poder analisar e criticar democraticamente os posicionamentos dúbios (para dizer o mínimo) da chefe do executivo, preferiram ficar batendo panelas e gritando xingamentos em suas varandas.
Brasileiros e brasileiras; se queremos uma mudança de fato, o pior caminho é o do confronto. Vaiar e chamar a presidente de “vaca” e outros absurdos que ouvi, é coisa de troglodita. Tentar derrubá-la à força, ou dizer, como já ouvi várias vezes, que “ela não me representa” é pior ainda. Dilma Rousseff foi eleita democraticamente e, na minha visão, deve governar o país pelos próximos quatro anos, conforme é norma em todos os lugares civilizados do mundo.
Um ambiente de ânimos exaltados é tudo o que Lula e seus companheiros querem para reforçar o seu discurso preferido; o de jogar brasileiros contra brasileiros, “as elite branca” contra os pobres, os negros, os sem-terra e mais não sei o quê. A arma do PT sempre foi esta, desde os seus tempos de oposição; invadir, quebrar, desrespeitar as regras do jogo. O que o Brasil inteligente e civilizado precisa fazer, neste momento, é exatamente zelar pelas suas instituições democráticas; que os eleitos sejam mantidos, que o judiciário e a Polícia Federal continuem trabalhando com liberdade para apurar a corrupção, e que os meios de comunicação continuem divulgando tudo. Só assim vamos mudar para melhor.
Por tudo isto entendo que as prometidas “marchas” de 15 de março só vão servir para ajudar os ocupantes do poder a endurecerem o discurso e as ações; quando Lula ameaça “colocar o exército do Stédile na rua” ele não está blefando. E, no caso, o pessoal do MST, transformado em “Guarda Nacional” ainda terá a desculpa de que está defendendo o mandato de uma pessoa eleita democraticamente contra um suposto “golpe das elite”.
Resumindo, entendo que o pior que pode acontecer para Dilma e seus pares é terem que passar quatro anos explicando que o seu modelo de inclusão social através de bolsas, projetos absurdos e crédito fácil desmoronou por culpa da crise internacional, da mídia golpista e dos governos anteriores. Com o inevitável arrocho econômico batendo às portas de todos, cada vez menos gente vai acreditar nisto, e o final será uma desmoralização total, em que terão que pedir ajuda para as pessoas realmente competentes deste País – como tiveram que fazer agora ao chamar um cara do nível de Joaquim Levy para ministro da fazenda, nome que, seguramente, está muito mais próximo “das elite” do que do PT tradicional. Afinal, alguém tem que consertar as besteiras que foram feitas ao longo destes anos todos.
A democracia é a pior forma de governo, tirando todas as outras, já dizia o sábio Winston Churchill. E só a democracia nos dá espaço para eleger incompetentes e depois tirá-los do poder em novas eleições. Qualquer movimento contra a ordem democrática, neste momento, é um tiro no pé de todos nós.

quarta-feira, 4 de março de 2015

A eterna questão sobre o valor do gerenciamento de projetos

A discussão, proposta pelo prof. José Finocchio, da FGV, um dos caras que mais entende de gerenciamento de projetos neste país, era sobre o valor da certificação PMP. Como não podia deixar de ser, resolvi me meter na história, e fiz o post que reproduzo abaixo;
Aproveitando esta discussão, gostaria de ir um pouco mais fundo e perguntar; quanto vale um gerente de projetos? Entendo que o valor de um profissional deve ser proporcional aos resultados que ele proporciona para a empresa. E é exatamente aí que vejo, no Brasil, uma distorção cultural que pode ser muito perigosa para todos nós que militamos na área, independente de ter certificação ou não.
Tentando ser bem conciso, minha tese é; para que um bom gerente realmente agregue valor a um projeto, é preciso que ele receba condições para fazer um trabalho condizente com a sua capacitação. Infelizmente, no Brasil, ainda temos uma cultura em que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, portanto o que o GP normalmente recebe é um “prato pronto”, onde alguém acima dele já determinou prazos, custos e escopo (normalmente impossíveis de realizar). Assim, a função dele passa a ser exigir tudo da equipe para conseguir o que todo mundo sabe que não é possível, e levar esporro dos superiores porque não cumpre as metas. Para isto, é claro, não precisa qualificação nenhuma.
Usando a Petrobras como exemplo, posso dizer que em 2001, quando obtive a certificação, eu era um dos poucos (talvez o único), PMP da empresa. Hoje temos centenas de profissionais certificados, cursos de MBA internos, enfim, a capacitação da Petrobras nesta área é imensa. E o que aconteceu com os projetos da empresa? Acho que não preciso dizer. E porque aconteceu? Pura e simplesmente porque, na cultura brasileira, o profissional técnico é ignorado na hora das grandes decisões. Nem mesmo o Presidente da Petrobras tem o direito de discordar das ordens do Planalto. Detalhe importante; isto não é exclusividade do PT. Entrei na Petrobras em 1976, em plena ditadura militar, e posso garantir que esta ingerência sempre aconteceu - nunca tão exageradamente quanto agora, é certo. Na verdade, conforme colocado acima, trata-se de um traço cultural do país.
Assim, entendo que talvez a discussão mais importante seja esta; como fazer para implantar no Brasil uma mudança cultural de forma que o GP possa realmente desenvolver o seu potencial e se tornar uma figura importante dentro da estrutura de poder das empresas (governamentais ou não). O workshop que tenho ministrado em algumas turmas da FGV é justamente sobre isto.
Resumindo, entendo que, nesta situação, a diferença entre ter ou não o PMP é apenas um detalhe. E o pior cenário é que o mercado entenda que esta coisa toda de gerenciamento de projetos não serve prá nada, porque não apresenta resultados concretos. Temos que defender a nossa posição; um bom gerente de projetos é importante para uma empresa, desde que deixem ele participar das decisões e não apenas correr atrás de metas absurdas. Não adianta ter o Neymar no time, se ele é obrigado a jogar de zagueiro.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

GABRIELLI ACHA QUE O PROBLEMA FOI FALTA DE COMPETÊNCIA DA ENGENHARIA DA PETROBRAS. SERÁ VERDADE?

Uma extensa entrevista do ex-Presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli foi publicada hoje no site UOL (ver http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/02/1589921-entrevista-com-jose-sergio-gabrielli.shtml). Gabrielli sabe fazer política, é inteligente e articulado, e quase consegue, ao longo de seu extenso depoimento, convencer o leitor de que não tem nada a ver com o que aconteceu na Petrobras durante a sua própria gestão. Só que explicar o inexplicável é tarefa para pouquíssimos (Paulo Maluf é o único que me parece capaz disto), e Gabrielli acaba tropeçando algumas vezes. Por exemplo, sobre o desastre do projeto das refinarias (ele se refere especificamente à Abreu e Lima, mas vale para o COMPERJ, também), diz o seguinte; “Acontece que a última refinaria construída foi em 1980 e houve uma desmontagem da engenharia da Petrobras até 2003. Ai, em 2005, você inicia um projeto de refinaria retomando a capacidade técnica da engenharia da Petrobras. Evidentemente que você vai fazer um projeto fraco, você não tem expertise suficiente para isto”.
Não sei até que ponto o Sr. Gabrielli tinha conhecimento do nível de capacitação dos funcionários da empresa que presidia, mas o fato é que, durante este intervalo de tempo, a Engenharia da Petrobras foi capaz de implementar dezenas de projetos de adaptação do nosso parque de refino para o petróleo Marlim, além de diversos outros de ampliação da capacidade de refino, englobando as mais importantes novidades tecnológicas, num esforço que começava na Engenharia Básica do CENPES, onde trabalhei durante 26 anos, e chegava às Unidades. E em praticamente todos estes projetos não houve estouros astronômicos de orçamento e prazo, muito menos casos de propinas ou corrupção. O fato é que posso dizer, sem medo de errar, que a Engenharia da Petrobras estava perfeitamente apta a conduzir os projetos das novas refinarias.
Fui o coordenador dos projetos básicos do COMPERJ, e posso assegurar que nossos projetos tinham qualidade suficiente para competir com qualquer empresa estrangeira. Trabalhamos em parceria com empresas do nível da SHAW Stone&Webster americana, Axens da França, Technip da Itália e diversas outras. Vejam bem, ninguém me contou isto; eu estava lá, participei das reuniões e vi os melhores do ramo elogiando a qualidade dos nossos projetos e o nível de conhecimento das nossas equipes. Infelizmente isto não chegou ao conhecimento do Sr. Gabrielli, ou foi ignorado por ele.
Se alguém estiver interessado, o meu diagnóstico sobre o problema destes projetos de refinarias é diferente. O que aconteceu foi que, obedecendo a uma política ufanista (e suicida) que tinha como único objetivo ganhar eleições até onde possível, o governo brasileiro resolveu fazer quatro refinarias ao mesmo tempo, além de obras para a Copa do Mundo, para a exploração do pré-sal, Olimpíadas e mais não sei o que. E o fato e que não havia condições de fazer tudo ao mesmo tempo. O mercado de engenharia ferveu, recém-formados recebiam ofertas astronômicas e, como não havia gente capacitada suficiente para fazer tanta obra ao mesmo tempo (o que não chega a ser uma vergonha para nós; acho que poucos países do mundo venceriam um desafio maluco destes), tivemos muitos problemas, principalmente no caso de projetos envolvendo alta tecnologia, como os das refinarias citadas. É claro que o governo sabia o que estava acontecendo, mas preferiu deixar rolar, afinal o povo estava feliz, tinha emprego prá todo mundo, e um viadutozinho que caiu ali, uma obrinha superfaturada ali, um atraso absurdo acolá eram considerados acidentes de percurso. No caso específico da Petrobras, ainda havia a imposição de decisões tomadas apenas em função de fatores políticos, como a desastrosa ideia de construir o COMPERJ em um lugar onde não havia acesso para os grandes equipamentos (que até hoje não chegaram lá). Nenhuma empresa do mundo resiste a uma ingerência política tão grande. Digo e repito; neste cenário, o prejuízo causado pela corrupção é muito mais moral do que financeiro. A Petrobras iria à bancarrota com ou sem os desvios de dinheiro.
Só que agora, quando o Titanic está fazendo água por todos os lados, o ex-comandante do navio prefere jogar a culpa na incompetência dos seus engenheiros. Como diria meu sábio avô lá de Santa Maria; quem faz uma afirmação destas ou tem informação de menos, ou má intenção demais. E la nave vá...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Diretoria da Petrobras recebe aviso prévio de 30 dias – pode isto?

Não sei se muita gente lembra de um cronista chamado Sérgio Porto, que escrevia sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta e morreu (ou talvez tenha sido morto) na época da ditadura militar. Stanislaw, um gênio do humor, era um crítico feroz do regime então vigente, e criou a sigla “FEBEAPA”, para o que ele chamava de “Festival de Besteiras que Assola o País” Onde quer que esteja, tenho certeza que ele está impressionado com o volume de material que a vida política brasileira está fornecendo, diariamente, para uma possível reedição do FEBEAPA.
A última novidade é o anúncio público feito pelo Planalto de que a Diretoria da Petrobras será toda demitida... no início do próximo mês. E com mais um detalhe importante; não foram anunciados os substitutos.
O brasileiro já está tão acostumado com estes absurdos que, acredito, pouca gente notou o quanto esta decisão é descabida, sob o ponto de vista de técnica de administração de conflitos (esqueçam partidos e ideologia, neste momento). Caso para estudo; você tem uma empresa que está se desmanchando, por culpa de um esquema que, durante vários anos, juntou ambição política e corrupção, e chega à conclusão que o único jeito de recuperar a credibilidade é demitindo todos os diretores. Até aí tudo bem (parêntese importante; não acho que a solução certa seria esta. Mas é apenas a minha opinião). Só que qualquer manual de administração vai te dizer o seguinte; primeiro você convida os substitutos, fecha com eles, e depois tira a diretoria atual e empossa a nova, se possível no mesmo dia. Simples assim. O velho e bom Maquiavel já dizia; se é para fazer o mal, faça-o de uma só vez. Infelizmente, a maioria dos ocupantes do poder hoje é capaz de confundir Maquiavel com o Capitão Marvel, portanto... Deixa prá lá.
Imaginem como devem estar se sentindo, neste momento, os diretores da Petrobras. Graça Foster e José Figueiredo, que eu conheço pessoalmente e sei que são “workaholics” assumidos (além de muito competentes, diga-se), vão fazer o que, nestes próximos dias? Tomar decisões? Preparar a transição sem saber para quem? Conversar sobre o futuro da empresa? Com quem? E o recém-empossado Diretor de Gestão Corporativa (não lembro o nome dele, confesso)? Vai ficar? Vai sair?
O resumo da ópera é o seguinte; o que o governo está anunciando é que a novela Petrobras vai se arrastar por pelo menos mais um mês, sem solução. Num momento em que é preciso ter agilidade mental e coragem para tomar e implementar decisões, o Planalto reage na velocidade de um cágado com artrite. E, para quem gosta do termo, a “Presidenta” mostra, mais uma vez, que é uma “Gerenta” muito pouco “Competenta”.
Que Deus nos ajude!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

R$ 88 bilhões em desvios na Petrobras? Muita calma nesta hora!

Pessoal; é impressionante o desconhecimento das pessoas que divulgam este tipo de notícia (ver http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/01/1581597-calculo-desprezado-pela-petrobras-trazia-perda-de-r-886-bi-com-desvios.shtml) . Na verdade, eu espero que seja desconhecimento, e não outra coisa...
No corpo da matéria se fala que o valor do COMPERJ hoje seria zero (porque o projeto não produziu nada), e a RNEST vale muito menos do que foi pago. Tudo isto está certo, mas estes valores não estão, de forma alguma, associados diretamente à corrupção, e sim a projetos mal feitos e com VPL absurdamente superestimado. Graças a Deus as duas Refinarias Premium estão sendo abortadas, o que vai impedir um estrago maior ainda no caixa da empresa.
O fato é o seguinte; a Petrobras embalou e patrocinou os delírios de um grupo político cujo objetivo era se eternizar no poder. Isto resultou em projetos feitos de qualquer jeito, e sempre com muita pressa, por razões que todo mundo sabe quais eram mas é melhor deixar de lado, por enquanto. Assim, os bilhões gastos equivocadamente na RNEST e no COMPERJ não foram desviados diretamente para a corrupção, conforme o título da matéria faz pensar; foram pagamentos feitos em troca de serviços que foram efetivamente prestados, como acontece em qualquer contrato do mundo. Se o desembolso foi muito maior que a estimativa, é porque os projetos foram mal feitos, em função da pressa e, na hora da verdade, os custos subiram astronomicamente, coisa perfeitamente normal quando os riscos são negligenciados na fase de planejamento.
Resumindo; o custo da corrupção é, comparativamente, muito pequeno; tenho certeza que a maior parte do prejuízo aconteceu por culpa de quem usou a empresa para se eleger, sem pensar no futuro da Petrobras e do País. Mas, para os donos do poder, é muito mais fácil dizer que a culpa é dos corruptos. Só que a matemática, esta velha aliada da verdade, os desmente.

domingo, 18 de janeiro de 2015

JE TAMBÉM SUIS CHARLIE, PÔ!

Todas as vezes que o assunto “até onde alguém tem o direito de ir em defesa daquilo que ele considera sagrado” entra em discussão, lembro três causos interessantes, que relato a seguir.
O primeiro envolve a figura de Chico Xavier, o famoso médium mineiro (eu sei que a simples menção à palavra “médium” causa crises histéricas em alguns espiritofóbicos, mas não me importo. A vida e a obra do nosso bom Chico demonstram que ele sempre foi um cara da paz, que jamais cogitaria usar um fuzil para defender suas ideias. E esta historinha ajuda a provar isto). Pois bem, dizem que uma vez ele foi procurado por uma senhora que pediu uma força para converter o marido à doutrina espírita. A frase dela foi; “meu marido só tem um defeito; não é espírita”. Chico, que era rápido de raciocínio e muito bem humorado, emendou de primeira; “então a senhora está de parabéns, casou com o homem perfeito. Porque não ser espírita não é um defeito; é uma escolha”. Simples assim; Chico tinha todos os motivos do mundo para acreditar no espiritismo, do qual foi e é um dos maiores divulgadores, mas jamais promoveria uma guerra santa pela conversão dos infiéis. Cada um escolhe o que quer. E Deus abençoa a todos.
Outra visão interessante sobre o assunto é a de Daniel Goleman, em seu famoso livro “Inteligência Emocional”. Não lembro exatamente das palavras, mas ele diz algo do tipo; pessoas que acreditam em alguma religião são, normalmente, melhores para trabalhar em equipe, uma vez que tendem a aceitar com mais resignação os problemas que acontecem ao longo da vida profissional (tipo; demissão, cancelamento de bônus, ser preterido em uma promoção, etc...). Mas ele mesmo alerta para o fato de que existe uma diferença entre uma pessoa religiosa e um fanático religioso; estes últimos são perigosos até no ambiente de trabalho.
Finalmente, temos o grande estadista inglês Winston Churchill, um dos maiores frasistas da história universal, que definia um fanático como “uma pessoa que não consegue mudar de ideia, nem de assunto”.
Resumindo; ter uma religião, acreditar em um Deus e em um código de ética, pode ser uma coisa muito positiva para um ser humano. O grande problema começa quando alguém se dá o direito de impor aos outros a sua religião e o seu código de ética. E divide o mundo entre os “meus” e os “do demônio”. A partir daí a coisa sai totalmente do controle. E posso dizer, sem medo de errar, que 99,9% do sangue que foi derramado estupidamente ao longo da história universal teve origem em discussões deste tipo.
Até a próxima!