quarta-feira, 27 de junho de 2012

Admitir a doença é o primeiro passo para a cura

A apresentação ao mercado da revisão do plano de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos, feita na segunda-feira, 25/06, teve alguns momentos que podem ser classificados como muito interessantes, principalmente para quem, com é o meu caso, trabalha na área de gerenciamento de projetos há alguns anos.
Uma das frases ditas pela Presidente Graça Foster me chamou particularmente a atenção. Ao comentar o ousado plano de investimentos na área de refino, no qual temos a previsão de construção de quatro refinarias novas (COMPERJ, Refinaria do Nordeste, Premium-I e Premium-II), ela teria dito que “As refinarias são fundamentais, mas eu preciso saber quanto custa e quanto já fiz” (fonte; site do jornal O Globo).
Minha primeira reação foi de surpresa; afinal, na minha forma de ver, não é aceitável que a Presidente da Petrobras confesse, publicamente, que não conhece nem o custo nem a curva de avanço de alguns dos projetos mais importantes de sua própria empresa.
Só que, antes de condenar a sua atitude, cabe pelo menos uma reflexão sobre o assunto. Acho que, mais uma vez, estamos diante de uma situação que reflete a cultura (ou a falta de cultura) de gerenciamento de projetos no Brasil. Afinal, tenho certeza que ninguém sabe, com um mínimo de certeza, qual é o custo previsto e/ou quanto já foi realizado nos outros grandes projetos do Brasil (Copa-2014, Olimpíadas-2016 e outros). Porque no Brasil não existe a cultura de planejar, executar, controlar; as coisas vão sendo feitas sempre na empolgação do momento, em função de orientações quase sempre políticas, e sufocadas pela visão imediatista (quero ganhar esta eleição, quero salvar o orçamento deste ano, e por aí vai). E todos nós sabemos que a cultura de gerenciamento de projetos propõe exatamente o contrário; investir hoje, para receber a recompensa amanhã. Japoneses e alemães podem dar aulas disto.
No fim das contas, podemos dizer que hoje o Brasil começa a viver a ressaca da euforia que foi sustentada por endividamento e visões de curtíssimo prazo, nos anos mais recentes. E, olhando por este aspecto, a fala de Graça Foster merece os maiores elogios. Finalmente uma executiva de alto nível, com voz ativa no governo, assumiu publicamente que o rei está nu. Espero que a sua fala seja o início de um trabalho de reestruturação da carteira de investimentos da Petrobras, empresa que é fundamental para o equilíbrio das contas do País. E que todo o potencial de competência dos quadros da empresa, que eu conheço muito bem, seja utilizado para produzir uma revisão desta carteira, baseado em expectativas realistas, e não mais em delírios políticos, conforme ocorreu, infelizmente, nos últimos anos.
E, se não for sonhar demais, que esta mudança cultural se estenda aos demais mega-projetos em que o Brasil se meteu.
Afinal, como já dizia a minha sábia avó, admitir a doença é o primeiro passo para a cura.