sexta-feira, 6 de agosto de 2010

UM PAÍS QUE NÃO RI NÁO É SÉRIO

Não há como ficar calado diante do absurdo que é a proibição, pelo TSE, do uso da imagem dos candidatos nos programas humorísticos da TV. Mais do que uma medida antipática e absurda, na contramão da democracia, representa uma tentativa de controlar e regular o uso da inteligência nos meios de comunicação. Afinal, já dizia o velho mestre Millor Fernandes, “fazer humor é fazer cócegas na inteligência dos outros”. Ou seja; a sátira, a ironia, são formas superiores de inteligência, e exigem também inteligência e informação por parte do espectador. Nada mais triste e desagradável do que contar uma piada e ver que as pessoas em volta não conseguiram entender. Acho que não estou exagerando ao dizer que o humor fino e inteligente é uma das características que diferenciam o ser humano dos animais.
Mas os gênios que dirigem o Brasil não pensam assim. E, usando o seu bordão preferido, podemos dizer que “nunca na história deste País” tivemos proibições tão estapafúrdias. Lembrando o antipático e grosseiro ex-treinador da nossa seleção, eu diria que estamos instalando a “era Dunga” na política brasileira; é proibido rir, o bom humor se tornou uma ameaça às instituições democráticas. Não sou profeta, mas posso garantir que, no fim, o legado desta proibição ridícula será o mesmo que Dunga deixou para a seleção, ou seja, nada. No fundo, é simples entender; todo o sujeito que ocupa uma posição de mando sem ter mérito para tal (e isto vale para políticos, técnicos de seleção, burocratas e toda esta turma) morre de medo da crítica inteligente e bem informada. Não é por outra razão que os repórteres do CQC (só para citar um exemplo de humoristas inteligentes) volta e meia são agredidos fisicamente. Só que agora chegamos ao fundo do poço; é proibido, por lei, ironizar e satirizar os poderosos – o próximo passo, obviamente, será banir o raciocínio inteligente de todo o território nacional.
É triste ter que insistir neste tema, mas a verdade é que, mais uma vez, vemos com tristeza a falta que faz um mínimo de cultura. Se os nossos poderosos conhecessem um mínimo de história universal, saberiam que mesmo os reis absolutistas da Idade Média mantinham no palácio o chamado bobo da corte – um artista inteligente e irônico, cuja função era fazer todo mundo rir, e que tinha o direito de fazer piadinhas até com a família real (é claro que era uma atividade de alto risco; de vez em quando o Rei perdia a esportiva e mandava enforcar um deles. Mas eram exceções). Dizem que os Césares de Roma também tinham alguma coisa parecida. Mas a nossa elite política não sabe disto. E prefere o estilo “prendo e arrebento”, consagrado pelo nosso último General-Presidente (que, justiça se faça, teve, ao longo de seu governo, atitudes bem mais democráticas do que alguns “representantes do povo” que andam por aí).
Resumindo, mais uma vez o Brasil toma o caminho errado. Acredito que alguma mente pouco iluminada de Brasília deve ter pensado que, calando os humoristas, iríamos nos tornar, finalmente, um País sério. Respondo citando o velho e bom Sérgio Jaguaribe, o Jaguar; “A seriedade é anti-humana. O Nazismo, por exemplo, era sério prá caramba”. Falou e disse, conforme se falava (e dizia) na época. Um País que cala os seus humoristas não se torna um País mais sério; vira um País mais triste. E mais burro. Muito burro.